Antônio Sodré Schreiber, Jerzy Grotowski, 2008
Jerzy Grotowski esteve duas vezes no Brasil: a primeira em 1974 e a segunda, vinte e dois anos depois, em 1996. Mas a sua influência sobre a cena brasileira começa nos anos sessenta e se torna efetiva a partir do lançamento, da tradução para o português, de Em Busca de um Teatro Pobre, em 1971, pela Editora Civilização Brasileira. Por ocasião desse lançamento, o crítico teatral Yan Michalski, autor do texto da apresentação do livro, escreve no Jornal do Brasil, em 11 de setembro de 1971, um longo artigo intitulado Grotowski: O Monge da Pesquisa Teatral:
(…) Mais do que uma mera teoria teatral, a obra de Grotowski é uma aventura espiritual, uma opção existencial e uma visão filosófica, que não pode ser dissociada do “background cultural” dentro do qual nasceu e se desenvolveu. Seria um absurdo tentarmos fazer no Brasil o teatro que Grotowski faz na Polônia. Mas, ninguém pode dizer que está familiarizado com a essência do teatro contemporâneo antes de tentar aprofundar-se no pensamento do grande diretor polonês.
É preciso aqui abrir um parênteses para falar de Yan Michalski (1932-1990), um dos mais importantes críticos teatrais da segunda metade do século XX no Brasil e personagem determinante da chegada do pensamento de Jerzy Grotowski ao nosso distante país tropical. Michalski, polonês, nascido em Częstochowa em 1932, tem seu nome original trocado para Jan Majzner Michalski [1] para escapar do destino de seus pais, que desapareceram durante a Segunda Guerra Mundial depois de terem sido mandados para o gueto de Częstochowa.
Yan chega ao Rio de Janeiro com 16 anos, em 1948, em companhia de seus tios e, desde muito jovem, passa a se dedicar ao teatro como ator amador e em seguida começa sua carreira como crítico do mais importante jornal do Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil, onde escreve durante 22 anos. A história da atividade crítica de Yan se confunde com a própria história do teatro brasileiro deste período. E foi exatamente este polonês-brasileiro o portador, em seguidas ocasiões, dos novos ventos do teatro contemporâneo trazidos pela revolução grotowskiana.
Na apresentação do livro de Grotowski, Yan diz:
Nos últimos anos, o nome de Grotowski tem sido usado em vão, no jovem meio teatral brasileiro, mais do que o nome de Deus. Muito antes de tornar-se, para todos nós, uma noção carregada de significado concreto, este nome transformou-se num mito e num rótulo mágico. Pergunto-me se mais de meia dúzia de cidadãos brasileiros tiveram, até hoje, a oportunidade de assistir a um dos espetáculos do Teatro Laboratório de Wrocław. Pergunto-me se mais de duas dúzias de cidadãos brasileiros tiveram, até hoje, a oportunidade de familiarizar-se verdadeiramente com o pensamento filosófico e estético do pesquisador polonês. Mas, qualquer jovem ator que parte para a sua primeira tentativa de criação experimental considera-se, com imensa convicção, um filho espiritual de Grotowski; e isto a tal ponto que ele não hesitaria provavelmente em referir-se a Grotowski, com a maravilhosa sem-cerimônia brasileira, pelo primeiro nome, se não tivesse tantas e tão bem fundadas dúvidas sobre a correta pronúncia do prenome Jerzy.
O lançamento de Towards a Poor Theatre em português vai permitir-nos, finalmente, conhecer mais de perto esse tão longínquo pai espiritual, penetrar na densa matéria das suas reflexões, enriquecer-nos com a iluminadora inteligência das suas investigações; e, mais do que qualquer outra coisa, vai permitir-nos dissipar alguns mal-entendidos e localizar aquelas partes do pensamento grotowskiano que possam dizer respeito ao teatro brasileiro não só como cultura geral (pois neste sentido o livro todo é fascinante), mas também como método suscetível de ser concretamente aproveitado, com as indispensáveis adaptações, em nosso próprio caminho de experimentação teatral.
A pobreza do teatro pobre de Grotowski nada tem a ver com a pobreza do teatro brasileiro. A nossa pobreza é uma realidade de força maior imposta pelo nosso subdesenvolvimento; e, em certos casos, ela se manifesta com particular eloquência justamente através de paradoxais exibições de opulência material. A pobreza de Grotowski é uma opção quase metafísica, resultante de uma aristocrática riqueza de tradições contraditórias, e da necessidade de fiar, a partir dessa massa de tradições, um ascético e sintético fio condutor que leve a corrente da comunicação cênica das raízes arquetípicas à sensibilidade dos nossos dias.
A matéria-prima, a partir da qual Grotowski elabora as suas teses, é tudo menos pobre. Encontramos nela, entre várias outras fontes inspiradoras, os conceitos filosóficas orientais, a parapsicologia, as ciências herméticas, as ideias psicanalíticas de Freud e Jung; encontramos nela, talvez com maior densidade do que se costuma reconhecer, as heranças do temperamento nacional polonês, com o seu profundo misticismo cristão, o seu fascínio pela santidade, a sua ligação afetiva com os grandes mitos heroicos do passado. Intensamente marcado por essa esmagadora carga de raízes culturais e de informações adquiridas, Grotowski parte, com uma obstinação que chega a ser patética, em busca de uma sincrética visão do mundo através do caleidoscópio teatral. Essa viagem à procura de uma convincente amostra cênica do comportamento coletivo do nosso tempo e de todos os tempos assume a dimensão de uma admirável aventura espiritual. E, a este título, o interesse do livro transcende de longe os estreitos limites da criação teatral propriamente dita.
Para os homens diretamente ligados ao trabalho teatral, um aspecto do livro que merece particular atenção é a importância que Grotowski atribui a uma formação técnica que obedece a exigências sem precedentes. A sua revolução teatral, a mais espiritual e religiosa que se possa conceber em termos contemporâneos, só é possível a partir do momento em que o ator-celebrante supera por completo todos os obstáculos que o seu corpo coloca diante dele. “Uma filosofia vem sempre atrás de uma técnica”, diz Grotowski; e completa: “Diga-me: você vai para casa usando as suas pernas ou as suas ideias?”
Uma leitura atenta deste livro ajudará qualquer ator a chegar à sua casa – o teatro – usando convenientemente suas pernas e suas ideias.
Este texto pode dar uma ideia de como o pensamento grotowskiano vinha já afetando o meio teatral brasileiro naquele período, mesmo antes da edição do livro em português.
As influências apareciam por todos os lados: legítimas ou não. Em 1972, chegou ao Rio de Janeiro a companhia de teatro Los Lobos, formada por dois atores argentinos: Carlos Traffic e Roberto Granados. Eles faziam uma temporada com seu espetáculo, a partir de um texto de Artaud, com uma clara influência grotowskiana, que era apresentado às sextas-feiras, à meia-noite, no Teatro Ipanema, sede máxima do experimentalismo teatral no Rio de Janeiro dos anos 60-70. Esta temporada foi longa, durou aproximadamente seis meses, e, nos sábados, os dois atores conduziam uma espécie de workshop em que ‘transmitiam’, a um grupo de jovens atores, os princípios do training do Teatro Laboratório, princípios que teriam ‘aprendido’ numa passagem pelo Instituto de Pesquisa da Arte do Ator, em Wrocław.
Yan Michalski volta à Polônia, pela primeira vez desde a sua infância, em 1973, e vai a Wrocław conhecer o trabalho de Grotowski e, em seguida, organiza a sua primeira vinda ao Brasil. Grotowski vem sozinho e é também Yan que está ao seu lado na conferência de 8 de julho de 1974 no Rio de Janeiro, e assim fala a respeito desta ocasião em artigo de 12 de julho de 1974 no Jornal do Brasil sob o título O Sentido de uma Visita:
(…) Grotowski não veio ao Brasil para falar do seu teatro, nem para conhecer o teatro brasileiro. Veio com a incumbência muito específica de procurar locais onde seu Apocalypsis cum Figuris possa ser apresentado, e onde ele possa levar adiante o seu laboratório com elementos locais, intitulado Special Project, caso se concretize a sua vinda, com toda a sua equipe, em fevereiro de 1975 (…).
(…) significou para mim, e creio que também para muitos outros dos presentes, uma experiência marcante no plano humano. Senti profunda emoção ao acompanhar este ser humano dotado de inteligência privilegiada e extraordinariamente ágil no seu singelo ato de abrir a algumas centenas de pessoas o acesso às suas próprias dúvidas, conflitos, e convicções adquiridas ao longo de pacientes exigências para consigo mesmo. Havia um clima de enorme seriedade no ar, nada ali estava sendo dito para agradar aos outros, ou para valorizar-se; tudo refletia uma experiência pessoal grave, honesta e sincera. Não uma aula; mas um ato direto e quase íntimo de autodesmistificação, na presença e em proveito dos que o vieram conhecer. Não senti falta de Grotowski não falar mais do teatro que fez nos últimos 15 anos, ou do teatro que eventualmente faz ainda. Aquilo que ele falou, o rigor, o humanismo que emanava da sua frágil figura, tudo isto enriqueceu-me, colocou-me em xeque e desafiou-me muito mais do que a experiência, esta sim apenas teatral, de assistir ano passado em Wrocław ao seu espetáculo.
Nesta ocasião, em 1974, Grotowski visita vários espaços, no Rio de Janeiro, com a intenção de escolher um lugar para futuras apresentações do Teatro Laboratório, mas este projeto nunca se realiza.
Em 1987, Eugenio Barba vem ao Rio de Janeiro e orienta um workshop para diretores cariocas, mais uma vez organizado e coordenado por Yan Michalski. Esta vinda de Barba reacende a chama grotowskiana. Neste mesmo ano de 1987, o livro Em Busca de um Teatro Pobre, na sua 3ª edição, tem, novamente, sua apresentação escrita e atualizada por Yan sob um novo título Em Busca de Grotowski:
Neste meio tempo [2], muita água correu debaixo da ponte. Entre outras coisas, o próprio Grotowski esteve no Brasil, em 1974; encantou-nos a todos com a sua simplicidade, andou frequentando a Macumba com grande entusiasmo, proferiu uma inesquecível conferência no Rio (…) No Brasil, bem de acordo com o nosso volúvel temperamento, Grotowski deixou de ser profeta com a mesma rapidez com que antes havia sido promovido a esta função. (…) Entretanto, o livro nada perdeu com isto; antes ganhou. Não se tratando mais de um modismo, temos agora maior disposição para abordar com objetividade as reflexões nele contidas. E estas reflexões conservam toda a sua atualidade (…) Por isso, não há escola de teatro que se preze que possa deixar de incluir esta fascinante obra no programa tanto de seus estudos teóricos como de seu processo prático de formação de ator.
Depois desta sua 3ª edição, o livro passa anos esgotado e todos aqueles interessados em estudar o pensamento grotowskiano têm que recorrer a cópias ou aos sebos. Assim, um exemplar passou a ser considerado uma raridade e a valer muitos reais. A situação seguiu até 2012, quando surgiu uma nova edição, da Editora Caleidoscópio, com outra tradução e outro título: Para um Teatro Pobre.
A partir de 1988, surge uma ponte entre o Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatrale di Pontedera [3], organização que abrigava, e abriga até hoje, o Workcenter of Jerzy Grotowski, e o Brasil, com a vinda para o Rio de Janeiro da companhia teatral dirigida por Roberto Bacci. A partir daquele ano se estabelece uma conexão, gerada pela minha presença em Pontedera como assistente de Bacci, um processo de intercâmbio, inicialmente com a cidade do Rio de Janeiro, e, a seguir, com a cidade de São Paulo. Roberto Bacci se torna assim um novo personagem desta história.
Em 1989, Grotowski me convida para participar de seu seminário Objective Drama Program em Irwine, na Universidade da Califórnia. Também do Brasil, vai o diretor do Grupo Lume, Luís Otávio Burnier (1956-1995), companhia teatral ligada à Universidade de Campinas, amigo de Eugenio Barba e seguidor das experiências do Odin Teatret. Como consequência da presença dos dois diretores brasileiros em Irwine, surgem estes dois focos do conhecimento grotowskiano no teatro experimental brasileiro contemporâneo no Rio de Janeiro e em São Paulo: Studio Stanislavski e Grupo Lume.
E, é Roberto Bacci junto com o ator Cacá Carvalho quem vai ‘articular’ a segunda vinda de Grotowski ao Brasil, a São Paulo, em 1996. O evento acontece sob o título: Simpósio Internacional – A Pesquisa de Jerzy Grotowski e Thomas Richards sobre a “Arte Como Veículo”. Desta vez, Grotowski não vem sozinho, mas acompanhado de todo o grupo de pessoas que trabalhavam com ele naquele período da Arte como Veículo. Vieram Thomas Richards e Mario Biagini, seus futuros herdeiros, Carla Pollastrelli, organizadora dos projetos do Workcenter, e mais uma série de convidados: Anatoli Vassiliev, Edgar Ceballos, Georges Banu, Gey Pin Ang, Jean-Marie Pradier, Michelle Kokosowski e Roberto Bacci. Nestes dias paulistas, Grotowski mostra o filme Art as Vehicle, de Mercedes Gregory, fez conferências, sempre superlotadas de uma plateia de artistas, especialistas e estudantes de teatro vindos de todas as partes do país. E, convida, ainda, algumas companhias de teatro para verem de perto a estrutura de Action.
Em 2009, realiza-se na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) um seminário, organizado por Tatiana Motta Lima, Grotowski: Uma Vida Maior do que o Mito, evento comemorativo do L’Année Grotowski [4], com a presença de Ludwik Flaszen. Em 28 de novembro de 2009, o Jornal do Brasil publica um artigo do crítico Daniel Schenker:
Grotowski, entre a paixão e a técnica
Houve uma época em que o dramaturgo despontava como integrante soberano do acontecimento teatral. Para Jerzy Grotowski (1933-1999), porém, a interação entre ator e espectador era o principal. Todos os demais elementos poderiam ser considerados supérfluos. Ao formular a expressão Teatro Pobre, Grotowski não se referia propriamente a uma questão de ordem econômica. O termo pobre deveria ser entendido como essencial.
A importância do encenador polonês será dimensionada, a partir de amanhã, no evento Grotowski Uma Vida Maior do que o Mito (…) Na abertura (…) Ludwik Flaszen, cofundador do Teatro-Laboratório (…) fará, (…) uma palestra intitulada: Grotowski em Busca da Melhor Encarnação.
(…) Grotowski deu continuidade às pesquisas de Constantin Stanislavski, no que se refere ao Método das Ações Físicas, que consiste, basicamente, na construção, por parte do ator, de uma partitura de ações decorrentes de associações e memórias pessoais inscritas no próprio corpo. Buscou uma conexão íntima, de alma para alma, entre ator e espectador, que se tornaria possível graças a uma disposição do primeiro a um autodesnudamento impiedoso.
(…) O contato com Grotowski foi determinante para alguns diretores brasileiros, e, especialmente para Celina Sodré, à frente da companhia Studio Stanislavski. Celina se aproximou de Grotowski na segunda metade da década de 80, por intermédio de Eugenio Barba, que veio ao Rio de Janeiro ministrar um workshop a diretores, também organizado por Yan Michalski. A partir do contato com Eugenio, surgiu a oportunidade de trabalhar como assistente de direção de Roberto Bacci no Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatrale, de Pontedera. O Workcenter of Jerzy Grotowski já estava sediado lá: “Cheguei em janeiro de 1988 e surgiram possibilidades de encontros com Grotowski. O trabalho dele mudou a minha vida. Foi uma revolução interna”, constata. “Falo sobre ele todos os dias com os alunos e atores.” No ano seguinte, Celina foi convidada por Grotowski a participar do Objective Drama Program, seminário de três semanas em Irvine, na Universidade da Califórnia: “Este curto período de convivência intensa com ele continua orientando a minha trajetória como artista, diretora pedagoga e pesquisadora da arte do ator e suas conexões com a espiritualidade. Até hoje busco as soluções, os encaminhamentos das questões éticas e estéticas que atravessam o meu percurso nas orientações que recebi naquele período. Falo sobre Grotowski todos os dias com os alunos, atores, parceiros de trajetória. Leio e releio os seus textos”, assume Celina, professora da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e coordenadora do Instituto do Ator: “No colóquio do L’année Grotowski, do qual participei, recentemente, em Paris, Peter Brook falou sobre ele para uma plateia que lotava o seu teatro e disse: Grotowski era um místico!” [5]
Celina Sodré no Instituto do Ator em 2011. Fotografia de Rodrigo Castro
Em 2010, tem início o projeto Grupão Grotowski, no Instituto do Ator [6] que se desenvolve até hoje com reuniões todas as semanas, como um grupo de estudo aberto que tem, como objeto, os textos de Grotowski e, em especial, as suas nove conferências no Collège de France em 1997/98.
Os anos de 2011 e 2012 são fecundos no que diz respeito à expansão do pensamento de Grotowski no Brasil: a sétima edição do ECUM – Encontro Mundial de Artes Cênicas tem como tema Grotowski; é publicada uma tradução do livro Avec Grotowski, de Peter Brook e, em 2012, a nova tradução de Em Busca de um Teatro Pobre, agora com o título de Para um Teatro Pobre. Ainda, em 2012, aparece a tradução do livro de Thomas Richards, Trabalhar com Grotowski sobre as Ações Físicas, e diversas publicações estão programadas para o futuro próximo, o que gerou um artigo de Antonio Gonçalves Filho no jornal O Estado de São Paulo: Grotowski volta à cena brasileira – Criador do ‘teatro pobre’, o diretor polonês, morto em 1999, ganha uma biblioteca só para a sua obra [7].
A influência de Grotowski tem se aprofundado com o passar do tempo, ao contrário do que poderia se imaginar, e esta nova onda de publicações vem, certamente, possibilitar uma ampliação deste processo, na medida em que o pensamento grotowskiano tem aparecido muito fortemente nos ambientes acadêmicos com o surgimento de inúmeras teses de mestrado e doutorado dedicadas a este estudo.
Notas
[1] Assim narrou Yan a respeito da sua história anterior à chegada ao Rio de Janeiro em 1948, com 16 anos de idade, na companhia de seus tios: (…) no início da guerra de 1939, viajamos para Łódź, onde permanecemos, ao lado dos meus avôs maternos, até a capitulação da Polônia. Posteriormente, retornamos a Częstochowa (cidade natal de Jan) onde prosseguimos, até Outubro de 1940, a nossa existência normal, dentro das limitações impostas pela ocupação. Avisados da próxima criação do gueto em Częstochowa, os meus pais entraram em contato com a senhora Weronika Sofia Batawia (…) que conseguiu para mim o nome de Jan Michalski (…) e veio buscar-me em Częstochowa, levando-me para Varsóvia. (…) Os meus pais foram para o gueto (…) Nunca mais os vi, e a única coisa que sei é que foram deportados e mortos pelos ocupantes alemães. Eu fiquei escondido no apartamento da senhora Batawia (…) em consequência de uma denúncia, tivemos de deixar às pressas o apartamento (…) esta levou-me, então, para casa de conhecidos (…) na aldeia de Rusinów, na região de Radon. Lá permaneci, escondendo de todos a minha verdadeira identidade, até a conquista da Polônia pelo exército soviético, em janeiro de 1945. Logo que as viagens se tornaram possíveis (…) estabelece contato com a família Tempel – os tios Hipolit e Sofia na Suíça. (…) A situação financeira do casal Tempel era bastante difícil (…) sendo assim (…) meus tios resolveram emigrar para o Brasil (…) levando-me consigo. Chegamos ao Rio de Janeiro em 26 de Julho de 1948, a bordo do Vapor Jamaique. Transcrição de entrevista dada a Álvaro de Sá.
[2] Desde a primeira edição em 1971.
[3] Atual Fondazione Pontedera Teatro.
[4] Evento comemorativo dos dez anos da morte de Jerzy Grotowski e cinquenta anos da criação do Teatro Laboratório.
[5] Disponível em: <http://goo.gl/T2m14J>.
[6] Sede da companhia teatral Studio Stanislavski no Rio de Janeiro.
[7] Disponível em: <http://goo.gl/XLBmBT>.
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