Denise Stoklos representada na ilustração da artista Veridiana Scarpelli para a sexta edição da eRevista Performatus
Do dia 11 a 21 de outubro de 2012, Denise Stoklos trouxe para o Rio de Janeiro uma experiência única do Teatro Essencial. A artista foi convidada pela equipe do Espaço Sesc Copacabana para realizar a leitura de sete peças do seu repertório de solos teatrais, seguidos sempre de debates no final. A proposta conceitual do evento As Palavras Gestuais de Denise Stoklos é justamente revelar como a linha específica do Teatro Essencial encontra na palavra um lugar potencialmente criativo de imagens, gestualização e visualização. O público carioca teve a oportunidade de acompanhar a leitura de sete peças escolhidas na sequência cronológica da trajetória do Teatro Essencial e de assistir, no último dia do evento, à versão montada do seu último espetáculo Preferiria Não?
Este texto surge de minha própria iniciativa como pesquisador que estuda o Teatro Essencial desde 2010 [1]. No caso, a escrita surgiu a partir da experiência de acompanhar todos os dias o evento As Palavras Gestuais de Denise Stoklos. Ao longo dessas duas semanas, organizei todas as minhas notas e questões a partir de um “testemunho teórico-crítico” sobre as leituras do repertório e a recepção do público carioca. Minha preocupação principal foi colocar-me como um pesquisador voyeur de todas as percepções e colocações propostas tanto pela artista Denise Stoklos e suas leituras como incluí, também, os comentários dos espectadores, o que me permitiu fazer um levantamento comparativo de todos os dias.
Primeiramente, vale fazer um pequeno apanhado das peças que foram escolhidas para as leituras do repertório com o objetivo de situar melhor o leitor deste texto. Abaixo segue a ordem das peças lidas:
– Casa: a peça foi escrita em 1990 e é um dos marcos iniciais do Teatro Essencial. A dramaturgia apresenta, de forma embrionária, as principais questões que iriam estar presentes ao longo dos trabalhos de solos-performances de Denise Stoklos: a metalinguagem como potência criativa, a abordagem da humanidade advinda do Amor e da Morte, arte como elemento de contestação estética-política-social, a anulação de elementos cênicos e a consequente aposta somente naquilo que é essencial [2] para a constituição da cena (ator-performer, texto, espaço de compartilhamento da experiência artística e público-espectador). A peça foi lida no dia 11 (quinta-feira);
– Um Fax Para Colombo: a peça funciona como um atomanifesto, escrita em 1992, no qual o corpo da atriz opera como ação de contestação e questionamento latino-americano em relação aos sistemas europeus de dominação e opressão. Aqui, já encontramos um exemplo de encenação que opera através do distanciamento para abordar a crítica e o humor ácido das relações patriarcais. Denise Stoklos desdobra as memórias coloniais da nossa cultura para transformá-las em atualidades cênicas, o que consequentemente estimula no espectador a imaginação de uma crítica social. É um exemplo de como a artista usa de sua arte para combater a violência e instaurar a liberdade. A peça foi lida no dia 12 (sexta-feira);
– Amanhã Será Tarde e Depois de Amanhã nem Existe: a peça, que se assemelha mais a uma prosa, foi escrita em 1993. O livro foi originalmente publicado como um “romance essencial”. Denise Stoklos escreveu a partir do sentimento da perda de muitos de seus amigos em função do surgimento e crescimento da AIDS nos anos de 1980. Dessa maneira, ela traz, para a cena, reflexões sobre a junção simultânea da vida e da morte. A peça foi lida no dia 13 (sábado);
– Des-Medeia: a peça é uma atualização cênica do mito grego de Medeia, escrita em 1994, porém recriada sob a óptica subjetiva de Denise Stoklos, que traz humor crítico e aproximações da Grécia com a cultura brasileira. A personagem de Medeia se transforma na própria personificação do Brasil como a pátria que é constantemente traída. Por sua vez, o personagem de Jasão serve como metáfora da “política pública”, ou seja, o governo que trai a sua nação. A peça foi lida no dia 14 (domingo);
– Desobediência Civil: a peça é uma adaptação dramatúrgica, criada em 1997, que Denise Stoklos fez a partir dos textos de Henry David Thoureau e Paulo Freire. Em cena, o corpo da atriz é veículo de questionamento tanto das possibilidades de submissão como de enfrentamento das obrigações civis. Questões como educação e cidadania são transformadas em poética cênica. A peça foi lida no dia 18 (quinta-feira);
– Vozes Dissonantes: a peça é uma reflexão nacional, escrita em 2000, sobre a comemoração dos 500 anos daquilo que se convencionou chamar “Descobrimento do Brasil”. A performer, através de sua “voz ressonante”, traz para a cena diversas possibilidades de releitura que questionam a História Oficial. Dessa forma, revemos a História do Brasil através de outros pontos de vista. Uma linda homenagem de amor à cultura da pátria e um estímulo à comunhão das vozes de todos que levantaram a construção da nacionalidade brasileira. A peça foi lida no dia 19 (sexta-feira);
– Calendário da Pedra: peça escrita em 2001. Inspirado na escrita minimalista de Gertrude Stein, o texto aborda a trajetória de um ano na vida de uma personagem metaforizada pela figura de uma “pedra”. A peça investiga questões como a duração para refletir sobre a passagem do tempo e suas possibilidades de provocar mudanças no ser humano. A peça foi lida no dia 20 (sábado);
– Preferiria Não?: a peça é a mais recente do Teatro Essencial e teve sua estreia em 2011. Trata-se de uma adaptação do livro Bartleby, o Escriturário, escrito em 1860 por Herman Melville. Nesse espetáculo, Denise Stoklos investiga o procedimento dramatúrgico advindo da fita de Möbius a partir da qual há um intercâmbio mútuo atriz-personagem. A peça foi encenada no dia 21 (domingo).
Não pretendo aqui fazer uma análise profunda de nenhuma leitura das peças em específico. Ao invés disso, estou interessado no levantamento de questões surgidas nas articulações da experiência como espectador ao longo de todos os dias do evento. Por isso, não abordo somente os momentos das leituras, mas também coloco o que observei do lado de fora antes de entrar na sala do Espaço Mezanino e o que ocorreu nos debates seguidos após as leituras.
Posso registrar, por exemplo, que sempre antes de entrarem no espaço de apresentação, ainda no hall do lado de fora, era comum ouvir um espectador que estava levando um amigo pedir que seu acompanhante desligasse o celular. Havia uma nítida preocupação para que o celular não tocasse no meio do espetáculo. É interessante perceber que o público de Denise Stoklos já conhece a preocupação da artista em manter uma profunda concentração durante as apresentações de seus trabalhos. Isso evidencia que a concentração para o Teatro Essencial é uma parcela de contribuição estendida na responsabilidade do próprio espectador. A doação é sempre troca, um prazer compartilhado mutuamente. Acredito que essa atenção especial notada no público específico do Teatro Essencial já denota a primeira chave de aproximação na relação espectador / espetáculo.
Uma primeira indagação que tive quando soube do evento As Palavras Gestuais de Denise Stoklos foi: “assistir Denise Stoklos fazendo uma leitura?” Isso para mim, de certa maneira, soava estranho, porque ao falar de Teatro Essencial automaticamente a minha memória é tomada de imagens cênicas em função da potente criação de movimentos/ações que a performer consegue desdobrar com tanto vigor em seus espetáculos. Pensei: “como ela fará a leitura de algo que é tão visual? Como ler algo que foi feito para ser visto e, ainda assim, ser significado?” Contudo, logo no primeiro dia, percebi que a falta de composição cênica em função da leitura não invalidou a necessidade psicofísica e corporal tão característica de Denise Stoklos.
Ao entrarmos na sala do Espaço Mezanino, observamos uma sala preta vazia que combina diretamente com a proposta minimalista do Teatro Essencial. No palco, apenas uma pequena mesa, uma cadeira e um copo de água. Imediatamente após a entrada de todos os espectadores, Denise Stoklos entra pela porta da esquerda trazendo em suas mãos o texto da leitura do respectivo dia, cumprimenta o seu público, atravessa o espaço, dirige-se até a mesa e se senta. Logo que começa, ao emitir o som da primeira palavra, já notamos que Denise Stoklos ultrapassa os limites de uma simples leitura. Os pés inquietantes da performer sempre buscam, em baixo da mesa, as imagens do que ela lê e expressa. A voz da performer é o instrumento para encontrar a existência do gesto dentro da palavra. Palavras-imagens-sons, todo o texto ressoa e flutua pelo Espaço Mezanino do Sesc Copacabana. Esse efeito de fluência na criação de imagens revela como cada palavra é transformada em presença cênica. Noto que, em todos os dias de leitura, houve alguns espectadores que fecharam os olhos para vislumbrar de maneira mais concentrada a experiência do estímulo e da imaginação.
No primeiro dia de leitura, apesar da forte chuva, o público esteve presente para conhecer a dramaturgia Casa, escrita em 1990, quando teve sua estreia no Teatro La MaMa, em Nova York. Como a seleção das peças foi feita de acordo com a ordem cronológica de criação, tivemos a oportunidade de ver o amadurecimento do Teatro Essencial ao longo dos anos. Em Casa, a performer desdobra a situação de uma pessoa solitária dentro de uma casa para investigar os sentimentos das relações do ser humano com tudo aquilo que está ao seu redor. A performer produz um mundo infinito de imagens para “des-cenarizar” a peça. A dramaturgia esclarece, tanto pelas rubricas como pelas falas, que a montagem não faz uso de cenário, não há construção de signo cênico material. O espaço desse ambiente sugerido apenas pelos estímulos imagéticos e pela intensidade da presença da performer nos traz a metáfora de que o mundo não tem paredes.
Apesar de Casa ser uma das dramaturgias mais antigas, notamos que existe, por parte da artista, uma imensa capacidade de sempre estar potencializando as atualidades de seus espetáculos. Talvez o melhor motivo que explique isso seja a maneira como Denise Stoklos aborda diretamente a essência da natureza humana. Ainda que tragam temáticas históricas, como no caso de Um Fax Para Colombo e Des-Medeia, o mais interessante de tais espetáculos é a maneira como tanto a dramaturgia como a encenação conseguem dialogar diretamente com o espectador de hoje. No caso dos dois espetáculos citados acima, o tempo histórico é concentrado e ativado no tempo presente – o que revela a experiência representada do tempo histórico no teatro e seu caráter de atualização. Vale comentar novamente que tais peças foram escritas, respectivamente, nos anos de 1992 e 1994; contudo, é interessante perceber que Denise Stoklos continua sempre renovando seus espetáculos ao longo dos anos. Conforme seus solos se apresentam em diversos locais, eles adquirem mais amadurecimento a partir do contato com o público. Sobre isso, podemos tomar como exemplo o ocorrido na leitura de Um Fax Para Colombo. Ao tratar diretamente do tema da colonização na América Latina, o texto se aproxima mais das nossas questões culturais, já que toda a nossa História se desenvolveu a partir da vinda dos europeus para o nosso continente. Contudo, no debate do quarto dia de leitura, quando um espectador pergunta por que Denise Stoklos vem com pouca frequência ao Rio de Janeiro, ela responde que não compartilha dessa impressão. Diz que vem com certa regularidade para nossa cidade assim como viaja com seu trabalho para outras lugares do Brasil, já que atualmente está investindo com mais força no circuito nacional. Na conversa, a performer compartilha que está o tempo todo em ritmo de viagem, em movimento tempo-espaço, e que essa é uma das características da vida mambembe dos artistas de teatro. No fluido da questão, ela conta que as recepções de seus espetáculos possuem diversas ressonâncias de acordo com o público de cada local. A vivência de cada espectador permite que seus espetáculos ganhem sempre novas leituras de recepção. Como exemplo, ela comenta que as condições de miséria abordadas em Um Fax Para Colombo são vistas de diferentes formas em cada lugar do mundo. Enquanto isso, no Brasil o público identifica tais questões diretamente com a fome e falta de recursos básicos para a sobrevivência; na Europa, onde existe uma maior estabilização econômica, a miséria estimula, nos espectadores, um sentimento relacionado à solidão humana.
De acordo com a percepção que Denise Stoklos mantém a partir do contato com o público de cada local onde se apresenta, ela opera procedimentos de renovação na dramaturgia e na cena para que seus espetáculos não fiquem datados e se mantenham sempre vivos. Em relação a isso, vale fazer uma comparação entre a escolha do primeiro e do último espetáculo (Casa e Preferiria Não?). O primeiro foi escrito em 1990, na época do surgimento do uso massivo da internet. Isso estimulava o espectador daquela época a assistir a narrativa de uma personagem dentro de uma casa quase como um anúncio do que estaria para se configurar como a era dos reality shows. Enquanto isso, em Preferiria Não?, Denise Stoklos insere, na narrativa do escriturário nova-iorquino de 1860, as relações com o uso das novas mídias contemporâneas como o Facebook [3]. A discussão sobre a internet traz para a cena o caráter de anonimato dos personagens que Denise Stoklos cria para suas dramaturgias. Raramente eles recebem um nome específico. A proposta é permitir que qualquer espectador possa encontrar, em tais personagens, alguma identificação, independente das questões de gênero, idade, etnia, lugar etc.
Em relação a isso, posso dizer que, ao longo do evento, havia um público bastante heterogêneo. Observei desde a vinda de um público idoso até crianças que eram acompanhadas pelos seus pais. No meio disso, é importante registrar a vinda de jovens estudantes de artes cênicas e profissionais de teatro de longa experiência na carreira. Vejo a diversidade de espectadores como uma qualidade rica de aproximação e criação de público que são constantemente promovidas pelo Teatro Essencial. Com quarenta e quatro anos de experiência no teatro, Denise Stoklos consegue, ao mesmo tempo, tanto manter o interesse do seu público de origem como atrair a atenção da nova geração. Podemos dizer que o Teatro Essencial toca diretamente na questão do humano na medida em que conscientemente busca a representação do outro. Isso se torna mais nítido na obra Amanhã Será Tarde e Depois de Amanhã nem Existe, a partir da qual refletimos que viver é olhar aquele que está do nosso lado. Percebemos que o ser humano é uma reserva de experiência e que as relações entre as pessoas estabelecem construções de saberes. Denise Stoklos busca, no teatro, o ritual do encontro entre as pessoas como a criação de um espaço-tempo compartilhado para falar da natureza humana sem fins utilitaristas. Aceitar que o outro existe só para ser é, na verdade, aceitar a si mesmo. O Teatro Essencial não busca o público como um consumidor comercial. Denise Stoklos não faz entretenimento forçado. O seu teatro se torna uma possibilidade de evento, de relação, de troca constante de pensamento, diálogo, afetos e questionamentos.
No primeiro dia da segunda semana do evento (quinta-feira, dia 18), Denise Stoklos preparou uma dinâmica diferente dos dias anteriores. Ao invés de fazer uma leitura corrida do texto, ela escolheu partes específicas na medida em que lia e fazia interrupções explicativas para comentar parte do processo de criação do espetáculo. Além disso, ela trouxe o vídeo de uma gravação de quando Desobediência Civil foi apresentado no Teatro La MaMa, em Nova York. A leitura foi realizada simultaneamente com a exibição do vídeo. Os que estiveram presentes vivenciaram uma experiência rara, tendo em vista que dificilmente Denise Stoklos permite o acesso direto ao registro visual de algum de seus espetáculos. Ao longo de sua carreira, ela sempre se preocupou muito com o caráter da presença, da instauração da experiência do instante e do encontro do público com a obra de arte. Por esse motivo, a artista não acredita que seu teatro se enquadre em qualquer outra mídia a não ser o próprio veículo teatral. Inclusive, antes de exibir o vídeo, Denise Stoklos comenta que o mesmo foi gravado em formato despretensioso, apenas para fins de registro e memória de seu acervo.
Enquanto ela lia, o vídeo era exibido sem som. Como espectadores, ficamos revezando o nosso olhar entre a leitura que era feita naquele momento – Denise Stoklos ao vivo, em 2012 – e o vídeo que era exibido – Denise Stoklos em vídeo de 1997. Fomos colocados numa situação de difícil escolha. Por breves momentos, a imagem do vídeo nos sugava completamente, porque estávamos diante do registro de uma apresentação feita há mais de dez anos. Isso criou um curto-circuito interessante para nós espectadores, apreciadores dessa oportunidade única de escutar a voz e assistir ao registro de como foi realizada a montagem. Somente no final da leitura, Denise Stoklos pediu que seu assistente Augusto aumentasse o som para que escutássemos a música de Elis Regina. Ela conta que todos os seus espetáculos terminam com uma música da cantora [4]. No vídeo, vemos Denise Stoklos ser ovacionada pelo público norte-americano. Ouvimos o som de uma espectadora da plateia do La MaMa dizer “I love you, Denise”. Ela aproveita a situação para comentar que, independente do lugar e da língua [5] em que estão sendo apresentados os seus espetáculos, sempre eles conseguem tocar os mais diversos públicos ao redor do mundo. A poética teatral presente em seus espetáculos revela a mobilização através da capacidade sensível de compreender as questões universais, como a força da sobrevivência humana.
Na sexta-feira (no dia 19), na leitura de Vozes Dissonantes, houve um acontecimento inédito em relação aos outros dias do evento. O espetáculo começou numa vibração altamente contagiante. O riso se perpetuou imediatamente de um espectador para outro. O jogo cômico se instalou de uma maneira multiplicada. Ao longo da leitura, o humor irônico, estimulado pela dramaturgia e pelo belo trabalho de interpretação da performer, levou o público a um riso sem fim. A progressão da leitura acompanhou o desenvolvimento do riso debochado para uma crescente visão crítica e política da construção da cultura nacional. Chegando ao final, a interpretação de Denise Stoklos alcançou um alto estado de revolta e indignação. Enquanto fazia a leitura, suas mãos batiam fortemente na mesa. Uma folha de papel do texto em que ela fazia a leitura voou pelo espaço sem que isso tivesse sido ensaiado ou planejado. No final da leitura, todo o público foi tomado por um sentimento de comoção. Percebemos que por trás do humor havia um desejo da artista de trazer para a sala de teatro a consciência de nossa história. Antes de finalizar formalmente a leitura, todos imediatamente se levantaram para aplaudir de pé. Foi a primeira vez que isso aconteceu em todos os dias do evento. Entre os barulhos das palmas, ouvíamos sons como o soluçar de algumas pessoas chorando. Terminados os aplausos, todos se sentaram. Ninguém conseguia falar, nem a própria Denise Stoklos. Houve a necessidade de um silêncio para absorver por mais um instante tudo aquilo que havia sido provocado. O título do espetáculo Vozes Dissonantes se tornou concreto. Após um minuto de silêncio, ao tomar novamente a palavra para si, Denise Stoklos começa o debate agradecendo aos poucos que estavam presentes porque vieram ao teatro por opção, enquanto que muitos outros optaram por deixar suas “vozes dissonantes” em casa para assistir ao último capítulo da novela [6]. A plateia desse dia estava bem mais vazia do que de costume, fato que ocorreu ironicamente no dia em que a peça escolhida tratava de comemorar a nacionalidade. “Comemorar” quer dizer “memorar juntos”. E, juntos, estávamos apenas aqueles que fizeram a opção de vir ao teatro.
O final dessa leitura revelou como o público foi afetado pela mistura das mais diversas sensações (riso, choro, comoção, consciência crítica etc.). Isso também pode ser observado em Calendário de Pedra. O texto foi originalmente escrito para ser uma tragédia. No debate, após a leitura dessa peça, Denise Stoklos assume que antes da estreia em 2001, uma mulher, que estava presente num dos ensaios comentou que havia adorado “aquela comédia”. Ao ouvir esse relato, Denise entendeu que na verdade o que para ela parecia uma tragédia apresentava um grande potencial de comicidade. A partir dessa conscientização, ela foi repensando a escritura de seu espetáculo. Contudo, o que pretendo trazer para esta discussão é que todos os espetáculos do Teatro Essencial ultrapassam as fronteiras dos gêneros. Talvez seja um falso problema tentar definir os gêneros dos espetáculos de Denise Stoklos. Em sua obra instala-se um lugar híbrido no qual encontramos justamente toda a riqueza de nuances do Teatro Essencial: a capacidade de levar os espectadores para múltiplos lugares de sensações, lógicas, leituras, surpresas etc. Inclusive, no próprio debate, Denise Stoklos afirma que o teatro opera como um lugar lúdico, onde temos a licença poética para brincarmos livremente com os fatos da realidade. Como exemplo disso, ela comenta que o teatro é o local onde o clown ri da insuficiência de si mesmo. O teatro não é o lugar da conclusão, mas das tentativas de elaboração. Percebo que para o Teatro Essencial existe sempre um canal tragicômico que perpassa todas a suas peças. O humor funciona como instrumento crítico para compreender as condições históricas e sociais, o que ajuda a situar o nosso papel como ser humano nos dias de hoje.
Já no último dia do evento, pudemos assistir à encenação da sua peça mais recente: Preferiria Não? Inclusive, é importante comentar que o mesmo espetáculo havia tido uma curta temporada no Rio de Janeiro neste mesmo ano de 2012, entre os dias 5 e 15 de abril, ou seja, cinco meses antes das leituras aqui tratadas. Aqueles que estiveram presentes na primeira temporada do espetáculo no Rio de Janeiro puderam notar como a mudança do palco italiano do Teatro Nelson Rodrigues para a sala do Espaço Mezanino do Sesc Copacabana trouxe uma dinâmica maior na interação público-espetáculo. Como comentei no início do texto, a sala preta do Espaço Mezanino combinou diretamente com a proposta minimalista do Teatro Essencial. Além disso, a curta distância plateia-palco, sem nivelamento maior do palco em relação ao chão, permitiu uma imersão direta do nosso olhar no corpo da performer e em sua elaboração psicofísica na contação da narrativa. O espetáculo ganhou linhas de força mais vibrantes na instalação da conectividade comunicacional.
Como experimentação dramatúrgica para Preferiria Não?, Denise Stoklos aborda a metáfora da fita de Möbius [7] para falar da experiência de quando uma coisa continua diretamente na outra, não havendo começo nem fim. Isso revela que nós estamos nos renovando perpetuamente. Estamos sempre ganhando novas condições, porque somos um repertório contínuo de experiências. Por isso, os espetáculos do Teatro Essencial sempre despertam no espectador a consciência crítica para não deixar que a sociedade nos esvazie. Nesse sentido, é válido constatar que as peças do Teatro Essencial nunca acabam quando as portas se abrem e o público vai embora. Elas continuam na memória do espectador. Posso constatar que muitos alegaram sair das leituras com uma sensação de tonteira e de mobilização de suas sensações. Não utilizo a palavra “tonteira” no sentido de um vago mal-estar, mas sim ao tentar expressar uma sensação de perda de equilíbrio, porque somos deslocados do lugar comum e levados para outros estados de reflexão.
Notas sobre algumas curiosidades observadas no diálogo entre Denise Stoklos e seu “público essencial”
As leituras são sempre seguidas de debates, momentos importantes quando é permitido um espaço de troca e diálogo entre a performer e o seu público. A produção coletiva do diálogo é a possibilidade de extensão da criatividade dos espetáculos, incluindo a observação crítica do espectador, o que permite o amadurecimento gradativo das peças ao longo dos anos. É importante comentar que o Teatro Essencial é composto por um repertório de espetáculos que estão sempre voltando em cartaz. O que permite justamente a continuidade dos trabalhos é a preocupação do Teatro Essencial em estar todo o tempo buscando o diálogo com a atualidade do seu espectador. Ao longo de todos os dias, eu fazia notas das observações e questões levantadas durante esses encontros. Coloco abaixo casos que considerei interessantes para deixar registrado nesse “testemunho-teórico” [8]:
– Denise Stoklos comenta que ficou receosa com o primeiro dia, porque não sabia se haveria público. Estava chovendo bastante do lado de fora. Ela agradece pela vinda das pessoas e comenta que considera ter o melhor público do mundo. Ela diz que a sua imagem não está associada a uma figura mercadológica. Logo, a vinda do público para o seu teatro é um gesto infinito de opção crítica e consciente. No mundo da era do excesso de informação, o teatro se torna uma resistência, porque é uma arte que trabalha sobre ideias, ideologias e questionamentos. Logo, o teatro se torna um instrumento de libertação. Para ela, a visitação do público é a sinalização de reconhecimento, sendo motivo que a faz seguir trabalhando exaustivamente.
– uma espectadora revela que assistiu Casa em 1992 e que naquela época ela odiava teatro. Ela conta que o trabalho de Denise Stoklos apresentava uma linguagem muito diferente, o que a surpreendeu enormemente. A partir daquela experiência, ela começou a frequentar mais o teatro. Ela termina a sua fala dizendo que fez questão de trazer para essa leitura o seu filho e o seu sobrinho.
– no terceiro dia de leitura (Amanhã Será Tarde e Depois de Amanhã nem Existe), uma espectadora contou que, ao assistir a leitura, ela lembrou imediatamente das performances de Marina Abramović e de como a imagem da artista sérvia sempre vinha em sua mente ao pensar em Denise Stoklos.
– um espectador presente no terceiro dia de leitura comentou que esteve presente no dia anterior e que, segundo suas impressões, o público do segundo dia saiu muito calado. Houve poucas perguntas no debate e o público logo em seguida foi embora; parecia que a questão proposta pela peça Um Fax Para Colombo estava resolvida. Em comparação, o público do terceiro dia estava mais receptivo. O debate foi muito mais caloroso. Segundo esse espectador, o momento da leitura do terceiro dia deu uma resposta para o ocorrido no dia anterior.
– no quarto dia do espetáculo, uma espectadora pergunta se a ordem das peças foi feita segundo a cronologia de criação do repertório e se os dias escolhidos para as leituras tinham sido propositais. Denise Stoklos responde que a escolha das peças seguiu sim a ordem cronológica de sua criação, porém que os dias escolhidos para a leitura não tinham vínculo proposital com a estética específica de cada peça. A espectadora conta que pensava que sim, porque a leitura de Um Fax Para Colombo se deu no dia 12 de outubro (dia do Descobrimento das Américas). Denise Stoklos se surpreende, porque constata a informação e revela que não havia sido proposital, mas que as suas obras sempre estão abertas para a construção de sentidos que o público pode configurar; daí a relevância de troca mútua na relação obra de arte / recepção do espectador no que diz respeito ao Teatro Essencial. As conexões estabelecidas pelo espectador fazem com que o impossível se torne presente somente a partir da experiência de um tipo de trabalho que se predispõe a isso.
– no dia 18 (quinta-feira), na fila de espera antes de entrar na sala de apresentação, eu escuto uma conversa de duas senhoras que comentam o ocorrido. Uma delas diz: “Isso não foi coincidência, foi sincronicidade”. Deixo a minha curiosidade registrada.
– Denise Stoklos conta que recentemente foi informada pelo seu irmão que ela recebeu uma homenagem. O seu irmão estava no aeroporto e comprou a revista Cláudia, edição de comemoração dos 51 anos da revista. Saiu uma matéria especial que escolhia 51 mulheres que haviam mudado a história da humanidade, e que Denise Stoklos estava entre uma delas. O público do teatro aplaude imediatamente como retribuição pelo prestígio. Denise Stoklos agradece e diz que se sentiu muito feliz pelo elogio e reconhecimento de seu trabalho.
– um espectador protesta dizendo que ficou imensamente incomodado pelo fato da mesa de leitura de Denise Stoklos não ser transparente. Ele disse que sentiu muita vontade de ver todo o corpo da performer em movimento enquanto ela fazia a leitura, principalmente o movimento de suas pernas e dos seus pés, e pediu que a produção do Sesc trocasse a mesa. O público riu.
– Denise Stoklos revela que possui uma enorme preocupação para fazer o tempo do espectador valer à pena. Uma espectadora idosa disse que naquele dia a leitura havia recompensado o prazer de ter ido ao teatro. Denise Stoklos agradece.
– uma espectadora elogia a maneira como Denise Stoklos consegue provocar humor em seus espetáculos e pergunta se o humor é um instrumental crítico. Denise Stoklos responde que é possível fazer essa consideração e para isso cita o autor Henri Bergson (O Riso) para comentar que “o riso liberta”.
– uma espectadora conta que havia ido numa leitura anterior e voltou pelo impacto que a experiência lhe havia causado. Nisso, ela conta que conversou com uma amiga no telefone antes de ir novamente assistir à leitura do dia 18. A sua amiga perguntou o que ela havia achado e ela respondeu: “Ela (Denise Stoklos) é uma indignada”. A amiga pergunta: “E o que você achou da leitura?” Ela responde: “Achei um canto de força para a vida”.
– no debate do dia 18, após a leitura de Desobediência Civil, uma espectadora comenta que a proposta da dramaturgia, em fazer uma relação entre os textos de Henry David Thoureau e Paulo Freire, fez com que ela se lembrasse de temas como políticas públicas de cultura e educação. Denise Stoklos aproveita o pretexto e revela que está dando andamento a um projeto que irá abrir novos caminhos para sua carreira: que é a junção teatro – cidadania – educação – cultura. Denise Stoklos conta que sente a necessidade de levar o teatro para além da moldura convencional da caixa preta. Diz que agora está numa fase mais madura de sua vida e que o caminho da “arte-educação” é a possibilidade que ela tem para compartilhar o seu repertório de referências adquirido ao longo de sua jornada profissional e que, nesse momento, ela não quer “fazer reserva de mercado”. Ao invés disso, ela precisa passar essa experiência acumulada para estar junto com uma maioria pensante e sensível. Por isso, ela anuncia seu futuro projeto que será realizado no Rio de Janeiro no Complexo do Alemão.
– no meio do diálogo caloroso e intenso, Denise Stoklos fica contente e diz: “O debate já está virando um fórum”. Vemos uma expressão de felicidade no rosto da artista.
– uma espectadora comenta que veio anteriormente na leitura de Um Fax Para Colombo e que, desde aquele dia, ela continua lembrando, com precisão, partes do texto. Ela comenta que, inclusive quando toma banho, o texto continua ressoando dentro dela. No final, ela pergunta sobre a publicação e venda dos livros das peças, porque precisa entrar novamente em contato com o texto que recentemente assistiu.
– no dia 19, na leitura de Vozes Dissonantes, no momento do debate, um espectador se manifesta: “Vir aqui apesar da ‘Carminha’ [9], isso é o que me faz tomar um choque”.
– um espectador pede um momento para falar: ‘’Há doze anos, vi Vozes Dissonantes neste mesmo espaço do Sesc. Há anos eu procuro algo parecido no teatro e não encontro. Eu só gostaria de te agradecer’’.
– quando já estávamos para chegar no fim do debate do dia 19, Denise Stoklos fez um apelo para o espectador: “Vamos dançar, porque é frutífero… é bom… não há outra forma”. Vale esclarecer que ela fez uso da palavra “dançar” dentro do contexto da leitura de Vozes Dissonantes. “Dançar” como buscar nossa voz que ressoa, aquilo que segue criando um eco e multiplicando uma sensibilidade de reflexão artística e social.
– uma bailarina toma a palavra para contar que, ao assistir um espetáculo de Denise Stoklos em São Paulo, ela sentiu a necessidade de trazer para o seu trabalho de dança um pouco da linguagem teatral. Ela pergunta para Denise se ela pretende em breve dar um curso sobre o Teatro Essencial. Denise Stoklos responde que possui tal desejo, e comenta que só realiza cursos quando há uma instituição ou órgão patrocinador que viabilize a realização de um curso coletivo em que os participantes não precisem pagar pela experiência. Aproveita e comenta que sempre se preocupou em não colocar valores altos para os ingressos de seus espetáculos, porque ela está sempre preocupada no acesso e viabilização de sua arte para o público.
Considerações finais
É conveniente pensar que as experiências do Teatro Essencial nunca terminam quando as portas do teatro se fecham. Os espectadores saem pensativos, refletindo e ainda imersos na experiência teatral. Há uma mistura de sensações que considero difícil de traduzir em palavras neste escrito. As imagens e os textos dos espetáculos seguem ecoando plenamente no imaginário, no inconsciente e no estado de ânimo daqueles que estiveram presentes nas experiências das leituras.
Isso pode ser constatado pelo fato de sempre no final de todas as leituras, ao sair da sala de apresentação, o público rodeava a mesa onde se encontravam os livros do Teatro Essencial que estavam disponíveis para venda. Isso revela que a vibração instalada pelas leituras despertava nos espectadores o desejo de conhecer um pouco mais sobre o repertório do trabalho de Denise Stoklos. O sucesso dos livros foi tão grande que, no último dia da primeira semana, quase todos os livros já haviam sido vendidos. Esse fato criou a necessidade de a produção trazer mais livros de São Paulo para a segunda semana do evento.
Todos os dias do evento possuíam um caráter relacional intrínseco. Tais encontros transformaram o Espaço Mezanino num local de convívio no qual se estabeleceram modos de contato e invenção de relações. Observei que muitos espectadores estiveram presentes na maioria dos dias, o que revela que há um público bastante fiel. O Teatro Essencial é um elemento de ligação que forma nos espectadores a metáfora de uma gelatina conectiva e aglutinação dinâmica.
As leituras foram possibilidades únicas de entrar em contato com parte considerável do repertório do Teatro Essencial. A minha impressão é de que as leituras funcionaram como possibilidades de encontros com as questões mais tocadas pela obra da artista: o Amor e a celebração da vida. Através da experiência artística de assistir às leituras, passamos por um processo de reflexão metafísica sobre a nossa condição de atuante no mundo. Ao terminar este texto, gostaria que a minha curiosidade crítica em relação ao Teatro Essencial se multiplique e alcance outras pessoas que estejam interessadas em pensar numa maior articulação arte-vida como instâncias mutuamente necessárias para o sentido da existência humana. O Teatro Essencial está presente em cada um que acredita na possibilidade do teatro como renovação humana, como valor político e social.
NOTAS
[1] No caso, eu estudo o que venho a chamar de “Autoria Criativa no Solo Teatral”, sendo o Teatro Essencial uma das principais gamas da minha pesquisa. O primeiro texto que escrevi sobre o trabalho da artista Denise Stoklos foi publicado na revista Lindes de Sociologia e Arte, produzida pelo governo argentino. O texto se chama “O Teatro Essencial sob uma Perspectiva Minimalista” e desenvolve uma relação entre o Teatro Essencial e a Arte Minimalista (Ver em: GIORDANO, Davi. “O Teatro Essencial sob uma Perspectiva Minimalista”. In: Revista LINDES, n. 2, julho de 2011, Buenos Aires, Argentina.).
[2] O Teatro Essencial surge como uma proposta artística-teatral na qual o ator é “autor, diretor e coreógrafo de si mesmo”. Para mais informações, sugiro a leitura do meu primeiro texto “O Teatro Essencial Sob Uma Perspectiva Minimalista”, onde há um detalhamento sobre o conceito.
[3] É importante comentar que Denise Stoklos usa o seu Facebook como uma forma de comunicação e divulgação dos seus espetáculos. A artista sempre se preocupa em postar comentários, reflexões e anúncios de seus trabalhos, o que permite que seu público esteja sempre informado sobre a sua trajetória.
[4] Em 1982, Denise Stoklos criou o solo-performance Elis Regina como forma de fazer uma homenagem para a artista que lhe serviu de inspiração ao longo de sua carreira. Denise Stoklos não chegou a conhecer Elis Regina em vida, por isso fez o espetáculo como um modo de realizar o encontro entre ambas no palco.
[5] Denise Stoklos é uma das artistas brasileiras que mais circulou com seu trabalho ao redor do mundo: 33 países. Ela costuma apresentar os seus trabalhos em outras línguas (no caso: português, inglês, francês, espanhol, ucraniano, russo e alemão).
[6] Vozes Dissonantes foi apresentado no mesmo dia em que estava sendo exibido o último capítulo da novela Avenida Brasil, da Rede Globo de Televisão.
[7] “Uma fita de Möbius é um espaço topológico obtido pela colagem das duas extremidades de uma fita, após efetuar meia volta numa delas”. Para esse espetáculo, a fita de Möbius serve como a metáfora da adaptação dramatúrgica que Denise Stoklos fez a partir do livro Bartleby, o Escriturário, de Herman Melville. No caso, há um desdobramento de continuidade na interação atriz e personagem. Ambas estão interligadas por um processo no qual não há um fim entre elas, mas sim uma infinita continuidade.
[8] Não faço referência aos nomes dos espectadores, até porque não conheço diretamente todos os que estavam presentes ao longo dessas duas semanas. Contudo, a minha preocupação principal foi sempre colocar-me como voyeur-crítico. Isto é, busquei instalar a minha presença através da observação do que ocorreu antes, durante e após as leituras. Além disso, é importante comentar que, em relação às falas transcritas, há uma pequena margem de criação, porque não utilizei gravador de áudio. Primeiro porque não era permito pela produção do evento, segundo porque eu fiz uso da minha memória como estratégia proposital para aquilo que impactasse maior curiosidade e interesse.
[9] O espectador faz referência a uma personagem popular da telenovela que está sendo exibida durante o momento do debate.
Davi Giordano é diretor teatral e mestrando em Teatro pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio, Brasil), na linha de Estudos da Performance.
PARA CITAR ESTE TEXTO
GIORDANO, Davi. “As Palavras Gestuais de Denise Stoklos: A Experiência do Teórico-Espectador como Voyeur-Crítico”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 1, n. 6, set. 2013. ISSN: 2316-8102.
Revisão ortográfica de Marcio Honorio de Godoy
© 2013 eRevista Performatus e o autor
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