Espaços de Ajuste, Corpos em Ajuste: Validação, Nomeação e a Transformação de um Corpo em Obra

 

1. Introdução

 

O ser é o que exige de nós criação para que dele tenhamos experiência.

Merleau-Ponty

 

Merleau-Ponty (1908-1961), filósofo francês que sucede Husserl, irá repensar o estatuto do corpo em relação à consciência e à sua vivência no mundo. Distanciando-se de um idealismo originado no cogito cartesiano e trazendo à tona a possibilidade de um sujeito que não é mais da ordem do “eu penso”, Merleau-Ponty pensa sobre a existência a partir de um mundo vivido, que abarca também o campo do indeterminado, até então negado pela filosofia. Em seu projeto fenomenológico, o estreitamento do sensível com o corpo traz à tona a questão da experiência, pois a necessidade de troca e contato com o objeto e o espaço é o que estabelecerá nossa vivência no mundo, fazendo do corpo um mediador entre sujeito e mundo externo.

Na relação efetiva entre mundo físico (material) e de sentido (ideal), cabe ao sujeito da percepção organizá-los através do seu corpo, o que nos desloca para um foco intersubjetivo de compreensão do mundo, já que é o próprio corpo que possibilitará ao sujeito a recepção da objetividade sob sua óptica. Esse estreitamento entre sujeito e objeto reverberará na arte em uma revisão da importância do espectador e da influência do objeto artístico sobre ele. Novas linguagens artísticas surgirão algumas décadas após a fenomenologia, como a performance e o livro de artista, buscando na troca e na aproximação entre a obra e o corpo novas experiências artísticas. No Brasil, Merleau-Ponty surge primeiramente como referencial teórico para os neoconcretistas em sua busca pelo desprendimento da racionalidade exacerbada que permeava o concretismo brasileiro, e sua influência reverberará nas décadas seguintes do pensamento artístico brasileiro.

O caso a ser estudado é o de uma ação ocorrida em 1970, no XIX Salão de Arte Moderna do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O Corpo É a Obra foi uma ação realizada pelo artista António Manuel (1947 – ), na qual ele expôs seu corpo nu em condição de obra. Mesmo sem ter sido selecionado pelo júri, esse trabalho foi considerado um dos marcos iniciais da arte performática brasileira. Propondo uma revisão bibliográfica sobre a produção do artista, foi realizada uma pesquisa com duração de um ano e, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, visava estabelecer relações entre o pensamento de Merleau-Ponty e a produção do artista, buscando diminuir uma defasagem no estudo acadêmico sobre sua obra quando comparada aos seus contemporâneos como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape.

Assim, a primeira parte do artigo situa a performance em relação aos trabalhos em outras linguagens do artista, sempre analisadas sob a luz de conceitos merleau-pontyanos, observando como os trânsitos entre sujeito, objeto e espaço se situam na poética do artista. Para maior objetividade, essa parte é subdividida por trabalhos que se aproximam do pensamento de Merleau-Ponty. Já na segunda parte, o foco se desloca para o trânsito existente entre O Corpo É a Obra e sua própria validação como “exercício experimental da liberdade”, abordagem esta iniciada por Mário Pedrosa. No decorrer da pesquisa, além das considerações a respeito da relação existente entre o artista e a fenomenologia, foi percebido que grande parte da construção reflexiva da obra que analisávamos possuía bases em mediações externas ao artista e institucionalizadas, o que se constitui em um paradoxo quando observamos a proposta da ação de António Manuel.

Outro fator a ser debatido é a própria nomeação da ação como uma performance, o que coloca O Corpo É a Obra em um problema nominal, que se caracteriza pela necessidade de adequação a uma linguagem e categoria específicas dentro das possibilidades do campo da arte. Essa necessidade de ajuste pode se constituir em um problema – como se constatou no caso estudado – pois, ao ser nomeada como performance, a proposta passa a se encaixar automaticamente nas especificidades inerentes a esse campo. Perguntando se a proposta de António Manuel é de fato uma performance artística, o segundo momento do artigo busca apontar outras possibilidades de se enxergar a obra através de sua aderência a conceitos de ordem intervencionista na arte.

 

2. Trânsito de Experiência: A Poética de António Manuel

 

Como as ondas do corpo, são passagens abertas estrategicamente em muros e paredes, tornando visível a curva, a onda, a reta, o rombo, o objeto.

António Manuel

 

2.1. O jornal como espaço de ação

Nos trabalhos com jornais e flãs, em que o artista evidencia ou esconde partes do conteúdo da notícia, a compreensão do jornal como espaço no qual o corpo pode ter experiência é de extrema importância para o entendimento da relação constante que o artista estabelecerá entre sujeito e espaço em seus futuros trabalhos.

Merleau-Ponty (2004, p. 11-17), ao propor o fim da oposição entre espaço e mundo físico realizada pela ciência clássica, torna possível perceber o espaço não mais como “um meio homogêneo onde as coisas estão distribuídas segundo três dimensões e onde elas conservam sua identidade, a despeito de todas as mudanças de lugar”, mas sim como um meio heterogêneo, que existe “em relação com nossas particularidades corporais e com nossa situação de seres jogados no mundo”. Esse novo pensamento sobre o espaço rearranja também a concepção de objeto, como poderemos ver exemplificado nos trabalhos em que António Manuel explora o espaço gráfico dos jornais. Marilena Chauí (2002, p. 159), ao tratar da obra de Merleau-Ponty, ajuda-nos a entender como o projeto filosófico do pensador incide no objeto: “Desatar os laços da tradição filosófica é também renunciar ao modelo clássico do Objeto, o ser como coisa definida como pura exterioridade espaço-temporal dada, mosaico de partes exteriores umas às outras ligadas por relações causais ou funcionais”.

É compreendendo o jornal como um objeto que contém em si um espaço no qual o corpo pode se inserir artisticamente que António Manuel passa a interferir graficamente nos jornais, primeiramente com desenhos e depois com alterações na própria matriz do jornal. Não há, portanto, uma negação das propriedades do jornal, de sua periodicidade ou da sua função informativa, mas sim uma adequação às características inerentes àquele espaço e o uso dos seus próprios mecanismos de funcionamento para a evidenciação do que está nele implícito.

Nos primeiros trabalhos, como Aulas Suspensas e Sem Censura (1968), flãs são alterados graficamente pelo artista com o cancelamento dos textos e desmontagem das fotografias, e o corpo do artista encontra-se subentendido dentro da própria interferência, somente percebido na relação entre “corpo físico & gráfico” e na “ocupação do cerne estrutural do jornal / violentar a rama com novos espaços e cargas emocionais” (MANUEL, 2010, p. 42). Já em Exposição de 0 a 24 Horas (1973), trabalho no qual António Manuel substitui todo o conteúdo do jornal do dia por obras e textos de sua autoria, o artista propõe uma exposição dentro do espaço e tempo do jornal. Ao problematizar qual local pode abarcar uma exposição e quanto tempo ela pode durar, ele possibilita ao leitor do jornal um novo tipo de experiência subjetiva dentro daquele veículo de massa. Dessa forma, espaço e objeto também se situam em um amálgama no pensamento de António Manuel, no qual forma e conteúdo estão mesclados, e o objeto com o qual o corpo se relaciona não está somente no espaço, mas é espaço.

 

2.2. Urnas quentes: o ato de esconder e revelar

 

António Manuel, Urna Quente. Madeira, lacre, fotografia, 1967. Still do filme Guerra e Paz: Apocalipopótese, 1968. Fonte: António Manuel. Eis o Saldo, 2010, p. 137 (Crédito da foto: Raimundo Amado)

 

Em 1968, António Manuel realiza as primeiras Urnas Quentes: caixas lacradas com conteúdos desconhecidos que só poderiam ser abertas por martelos manejados pelo público. Inspiradas em um contexto verídico de urgência ocorrido com o artista, no qual ele colocou suas informações básicas em uma caixa de fósforos para deixar no caminho caso algo acontecesse a ele (BRETT, 2007, p. 54), a nomeação dos trabalhos como Urnas Quentes nos remete tanto às urnas eleitorais quanto às mortuárias. Por serem quentes, podem possuir algo de inovador e recente, pedindo para serem abertas. Expostas na exposição/acontecimento ambiental Apocalipopótese, as aproximadamente vinte caixas foram abertas com a ajuda de uma improvisação de musicistas da Mangueira que diziam ter dinheiro dentro delas.

Essa problematização do espaço existente entre obra e observador é reverberação direta da fenomenologia merleau-pontyana, principalmente da concepção de quiasma, ponto de entrelaçamento entre o subjetivo e o objetivo. Não estando nem no polo do objeto (a obra) nem no polo do sujeito (o observador), a experiência estética passa a existir através da relação estabelecida entre ambos, dando ao artista o caráter de propositor e ao espectador a condição de coautor. Manuel irá utilizar esse procedimento em grande parte dos seus trabalhos através do jogo de esconder/revelar, como em suas obras Repressão Outra Vez: Eis o Saldo (1968) e em Soy Loco por Ti (1969), nas quais uma espécie de cortina revela o trabalho somente quando o observador realiza a ação de puxar uma corda.

Falar sobre quiasma, ou a Carne do mundo, é citar essa reversibilidade entre o visível e o invisível, que opera como elemento poético em todos os trabalhos citados acima. Para Merleau-Ponty, a comunicabilidade entre o nosso corpo e o objeto não se dá simplesmente por uma ação física do objeto sobre nosso corpo, mas sim porque ambos partilhamos da mesma Carne. Marcus Sacrini Ferraz (2008, p. 212) introduz o termo da seguinte forma:

 

Essa comunidade sensível entre o mundo e os corpos, responsável tanto por justificar os conteúdos percebidos quanto a possibilidade de relações intersubjetivas, é exprimida por Merleau-Ponty pela noção de carne. O vocábulo “carne” normalmente descreve certos tecidos musculares dos animais e, num sentido mais metafórico e religioso, indica tudo aquilo que é sensível na existência humana por oposição ao espírito. […] A carne atua como um elemento, no sentido em que os gregos definiam o fogo ou o ar, quer dizer, ela é um tipo de ser genérico, que compõe os entes mais diversos, sem se esgotar em nenhum deles.

 

Como um entrecruzamento, a Carne opera nesse local entre dois polos, inclusive o do visível e o do invisível, aqui visto nessa série de trabalhos em que o jogo de esconder/revelar materializa essa relação, pedindo também uma ação do corpo para transformar esses polos, sempre mutáveis. Esse aspecto relacional que o corpo terá na obra de António Manuel como agente transformador dos espaços (o que confere um alto teor político aos trabalhos) irá se potencializar na intervenção mais emblemática do artista: a proclamação do seu próprio corpo como obra no MAM-RJ.

 

2.3. O Corpo É a Obra: um ato de criação entre sujeito e objeto

 

António Manuel, O Corpo É a Obra, 1970. Fonte: António Manuel. Eis o Saldo, 2010, p. 134 (Crédito da foto: Carlos)

 

Sempre aproximando à filosofia da arte, o pensamento de Merleau-Ponty relaciona diretamente o ato de criação com o Ser, nomeando como “Espírito Selvagem” uma força criadora que se direciona a uma lacuna a ser preenchida, realizando sua interferência sempre através da ação. Conforme vemos em uma das falas de Marilena Chauí (2002, p. 152) sobre o assunto:

 

Que é o Espírito Selvagem? É o espírito da práxis que quer e pode alguma coisa, o sujeito que não diz “eu penso”, e sim “eu quero”, “eu posso”, mas que não saberia como concretizar isto que ele quer e pode senão querendo e podendo, isto é, agindo, realizando uma experiência e sendo essa própria experiência. (grifo nosso)

 

António Manuel, com sua frase emblemática “Eu quero atuar, não representar” (título da sua retrospectiva realizada em 2011, em Nova York), nos aproxima desse agente que, para ser a mudança, torna-se a própria mudança, nesse pensamento em que não há uma objetificação da mudança que se pretende, mas sim um entrecruzamento entre projeção e ação. Nesse trânsito entre ser e agir, a aproximação máxima é sentida quando, em 1970, António Manuel deixa de pensar na ação de construir uma obra e passa à ação de ser a obra.

Com seu projeto concebido para a exposição na qual foi apresentada sem ter sido escolhida para fazer parte, a ideia inicial de O Corpo É a Obra divergia em alguns aspectos da sua realização final. Ao propor seu projeto para a comissão de seleção do XIX Salão de Arte Moderna – do qual já havia participado como artista em três edições anteriores –, António Manuel sugeriu seu corpo como mais uma obra da exposição. Conforme consta em seus textos, ao ser questionado pelo júri se, por ser obra, ele ficaria duro como uma estátua, o artista respondeu que, como obra, ele precisaria andar, comer, dormir, pensar etc. (MANUEL, 2010, p. 28), reforçando assim o pensamento de um corpo que se torna obra através da ação, que possibilitará a ele vivência e troca com o mundo.

Temos, nessa proposta inicial do artista, um elo mais direto com Merleau-Ponty do que na ação que foi realizada após a negação da proposta inicial pelo júri. O pensador vê na necessidade do contato direto com aquele corpo (humano/artístico) a real percepção e experienciação da sua essência, afirmando que:

 

Um romance, um poema, um quadro, uma peça musical são indivíduos, quer dizer, seres em que não se pode distinguir a expressão do expresso, cujo sentido só é acessível por um contato direto, e que irradiam sua significação sem abandonar seu lugar temporal e espacial. É nesse sentido que nosso corpo é comparável à obra de arte (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 210).

 

A comparação entre corpo e obra de arte era então direta e explícita no trabalho de António Manuel. Porém, após ser negada sua presença no evento, no dia 15 de maio de 1970, dia da abertura da exposição, o artista chega ao MAM do Rio de Janeiro uma hora antes do início da mostra, e expõe sua revolta com os trabalhos que estavam lá expostos e com a negação de seu trabalho pelo júri, resolvendo ficar nu e se autoproclamar como obra durante aproximadamente meia hora, junto à modelo da Escola de Belas Artes, Vera Lúcia Santos [1]. Mas, até que ponto essa explicitação de revolta transformou o trabalho em outra proposta e mudou as relações estabelecidas entre António Manuel e os preceitos fenomenológicos e corporais nos quais o artista assumidamente se baseava? [2]

A distância entre um corpo em estado natural validado como obra e um corpo que performatiza de forma irônica sua impossibilidade de ser obra são dois extremos que precisam ser entendidos como quase antagônicos antes de nos aprofundarmos em aspectos específicos do trabalho. Ao deixar de propor um corpo em seu cotidiano como algo comparável a um objeto artístico e colocá-lo em um contexto específico no qual seu caráter de obra depende de uma representação da ideia de obra, a proposição perde seu viés de dissolução e se mescla entre os conceitos de obra e corpo. Passa, assim, a se condensar em uma ação que apenas mimetiza a relação corpo-obra e necessita de um contexto específico para seu acontecimento. Essa necessidade de contextualização revela, na verdade, uma relação intervencionista, que problematiza mais a relação do corpo com aquele espaço específico de arte do que a relação do corpo com o mundo. Somado com o fator da nudez do artista, a proposta se altera.

De acordo com Antonhy Howell (1999, p. 16), a nudez e a imobilidade [3] de um artista performático se relacionam através de um estado de detenção, porque ambos os estados se situam em um nível básico de existência. Outro teórico que aborda a relação entre esses estados é Henri-Pierre Jeudy (2002, p. 13), vinculando o “pôr a nu” ao “pôr à morte”, de forma que um corpo que se desnuda para o outro dissocia a relação entre sujeito/objeto ao se colocar como objeto de observação para o outro. Por chegar ao espaço da ação vestido e retirar lá sua roupa, António Manuel se coloca como um corpo isento de proteções, em condição de análise, contemplação e observação para o espectador, que, por sua vez, “nega a si mesmo ante o aparecimento do corpo objetalizado como uma obra de arte” (JEUDY, 2002, p. 71). Após alguns minutos parados, Manuel e a modelo mulata que o acompanhava passaram a andar abraçados pelo museu. Pela ação de retirar o corpo da inércia e da imobilidade, Manuel traz um corpo que constantemente parece morrer e renascer. Por sua vez, esse renascimento, que pode ser enxergado pela volta da movimentação, possibilita outra leitura da obra. Assim como a nudez, renascer é se desprender daquela situação de imobilidade internamente imposta (HOWELL, 1999, p. 19), remetendo a um estado de pureza e renovação que se reforça também pela nudez do artista.

Em contrapartida, ao objetivar essa paralisação temporal e esse estado de suspensão das demandas e pressões produtivas da sociedade, o corpo torna-se isento de subjetividade, de movimentação e de ação. Assim, retoma-se o jogo de forças existente entre a paralisação enquanto morte e o estado máximo de equilíbrio interno. Em nosso contexto, deve-se reforçar que, no caso do Brasil, a paralisação sentida era de caráter fortemente político e imposto à sociedade. O período ditatorial – justamente por paralisar a expressão e a subjetividade – irá forçar esse caráter propositivo e acional da produção artística dos anos de 1960 e de 1970. O Corpo É a Obra, por exemplo, é realizado um ano após a criação do Ato Institucional n. 5, que suspendia ainda mais os direitos políticos dos brasileiros, impedindo-os de um posicionamento ativo e opinativo a respeito de sua própria vivência.

Mas a experiência aqui se coloca em primeiro plano, tanto da parte do artista quanto do público que o vê. Essa troca é permitida pela ação efetiva do corpo do artista naquele espaço, como agente da ação e também por ser agido por ela, em uma reversibilidade entre atividade e passividade que é inaugurada por Merleau-Ponty na história da filosofia, conforme podemos ver em O Olho e o Espírito (2004, p. 20):

 

Um corpo humano existe quando, entre vidente e visível, entre tangível e tangido, entre um olho e outro, uma mão e outra se realiza uma espécie de entrecruzamento, quando se acende a flama do sensiente-sensível, quando “pega” esse fogo que não cessará de queimar até que um acidente do corpo faça desaparecer o que nenhum acidente teria bastado para fazer existir.

 

Reforçando o viés fenomenológico contido na ação de António Manuel e sublinhando a interferência da fenomenologia na linguagem da performance, trazemos para a discussão a teórica da performance Amelia Jones. Para Jones (1998, p. 106), todo trabalho de performance ao vivo se fundamenta por ser modelo fenomenológico de intersubjetividade através da reversibilidade de expressão e percepção entre observador e propositor. Além desse fator, no caso aqui tratado o aceite do sentimento gerado pela recusa do espaço do MAM ser o motor da ação é a manifestação do corpo próprio e fenomenológico do artista, que reage ao espaço físico e social no qual se insere, em uma correlação direta com as situações dadas (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 169). Como vemos na fala do artista: “Nada foi programado, a ideia surgia ali como fruto de um sentimento de asco e repulsa” (MANUEL, 2010, p. 79).

Essa troca e transmissão das experiências do corpo sentiente [4] do artista tornam o trabalho de Manuel mais combativo e propositivo, escancarando a ironia e o estranhamento presentes em um corpo que tenta se colocar como obra e, mesmo sem pedir nenhuma reação específica do público à ação, coloca-os em relação espacial direta, ao se mover entre todos os que estão presentes. Essa carnalidade constituída na experiência que o espaço gerou no artista e no público, a transformação que torna visível o corpo vidente e a intersubjetividade que ocorre no momento de execução da ação criam os laços que mais aproximam O Corpo É a Obra dos conceitos merleau-pontyanos.

 

2.4. A criação do controle: as instalações de António Manuel

O Corpo É a Obra marca uma transição no trabalho do artista que é pontuada pela inversão de afetos: o estreitamento entre sujeito e objeto, que inicialmente era gerado pela ação do espectador sobre o objeto (como nas Urnas Quentes ou Soy Loco por Ti), passa a ser efetivado pelo objeto, que afeta diretamente o corpo do observador. Esse novo tipo de proximidade entre corpo e o objeto do artista é reforçado em suas instalações como Fantasma, Ocupações/Descobrimentos e Frutos do Espaço, sendo que em todas há uma relação de interferência do espaço no corpo do observador.

 

António Manuel, Frutos do Espaço, 1980 – 2007. Fonte: António Manuel. Eis o Saldo, 2010, p. 130 (Crédito da foto: Rômulo Fialdini)

 

Frutos do Espaço (1980-2007) é uma série de nove esculturas feitas nesses vinte e sete anos que tridimensionalizam, em estruturas de ferro soldado, a diagramação de uma página de jornal, possibilitando ao observador acessá-las espacialmente e observar o próprio entorno como um conteúdo jornalístico, dando prosseguimento à pesquisa já citada dos trabalhos com os flãs. Já Fantasma (1994), instalação composta por diversos pedaços de carvão suspensos, propõe um percurso que objetiva que o corpo do espectador chegue até o outro lado do espaço para observar uma foto de jornal na qual um homem com o rosto coberto por um capuz fala para diversos microfones. Ao transitar pelo espaço, o corpo que anda é fisicamente marcado pelos carvões suspensos no espaço ou passa a se esquivar deles. Nessa esquiva durante o trajeto, a construção corporal original de andar dos observadores é alterada, e seus corpos se movimentam, assim, “quase como numa dança, para não serem tocados ou marcados pelos carvões” (MANUEL, 1999, p. 53). O mesmo ocorre com Ocupações/Descobrimentos (1998/2007), obra cujo título remete ao descobrimento e ocupação do Brasil, mas cuja proposição pode remeter ao período ditatorial brasileiro, por requerer um condicionamento do corpo, que precisa se curvar para transpor os buracos e fendas produzidas em paredes que setorizam o espaço expositivo.

A materialização dos obstáculos nos permite pensar acerca da nossa própria construção corporal, que é moldada a partir da nossa percepção e relacionamento com o entorno. Pode-se pontuar aqui a educação somática, que possui como base direta a fenomenologia merleau-pontyana, por também compreender o corpo como uma construção que se dá pela experiência. Um de seus expoentes, o bailarino e teórico do movimento, Hubert Godard, apresenta um conceito que se aproxima da instalação de Manuel tanto pela sua carga conceitual quanto pelo seu nome. A teoria dos buracos negros (KUYPERS, 2010, p. 8) discursa a respeito de zonas inconscientemente negligenciadas pelo corpo devido a traumas acumulados ao longo de sua existência, da mesma forma que os buracos negros criados por António Manuel com os carvões no espaço forçam o corpo à negação de certos espaços, criando um interstício entre sujeito e objeto que, ao invés de aproximá-los, os repele. Godard reaviva o pensamento merleau-pontyano ao citar as feridas do espaço geradoras de doenças que incidem no corpo, pois “eu estou no espaço e o espaço está em mim. Não há uma distinção primeira entre o ‘eu’ e o ‘espaço’” (GODARD, 2005). Ainda sobre a relação entre corpo, espaço e percepção, Merleau-Ponty fala de membros fantasmas dos pacientes analisados por ele em seu livro Fenomenologia da Percepção [5]. Embora não intencional por parte de António Manuel, em sua obra há uma aproximação entre ambos os casos descritos acima, pois ele pretende provocar a interação entre o entorno e o corpo, colocando em primeiro plano a relação que o sujeito possui de si com determinado contexto, e evidencia como as ações exercidas partem diretamente do que o entorno requer e de como o corpo responderá a esse requerimento.

Importante notar que a construção de espaços para a contenção do corpo não visa mimetizar o período ditatorial do Brasil, mas sim estimular o corpo do espectador a vivenciar esse espaço contido para, a partir dele, encontrar seus meios pessoais de estar naquele espaço. A ideia de liberdade do corpo, como proposta em O Corpo É a Obra, mantém-se nas instalações, apenas transferindo a experiência do artista para o espectador. Assim, conforme cita Frederico Morais (2001, p. 171), quando um artista como António Manuel rompe uma parede para que um corpo passe, “o artista é que dá o tiro, mas a trajetória da bala lhe escapa. […] O aleatório entra no jogo da arte, a ‘obra’ perde ou ganha significados em função dos acontecimentos, sejam eles de qualquer ordem”. Essa constante ressignificação será vista na fenomenologia merleau-pontyana como um exercício permanente da expressão, que entra em diálogo com as expressões passadas e futuras. A experiência suscita a criação, tanto da parte do artista em relação às suas obras como da parte do espectador em relação ao entendimento do seu corpo.

 

2.5. As pinturas: o diagrama do real no corpo

Com António Manuel, as formas de seu corpo se relacionar com o outro e com o espaço parecem se modificar constantemente. Já em 1986, o artista diz: “na época, combatíamos o status quo. O suporte da pintura não expressava a necessidade de uma geração. Hoje sinto que as possibilidades de encontro com o outro são infinitas por meio da pintura” (MANUEL, 2010, p. 77), indicando uma mudança de foco nas linguagens trabalhadas. A atual produção do artista se constitui principalmente de pintura e gravura, que retomam soluções formais do concretismo, movimento anterior a sua entrada efetiva no circuito artístico. Suas pinturas, de caráter labiríntico e geométrico, apresentam uma nova luz para se observar sua relação com o pensamento merleau-pontyano, que não transcorre tanto pelo foco nas alterações físicas que o espaço impõe ao corpo, mas sim em uma reversibilidade entre vidente e visível, fazendo com que o corpo que vê o quadro veja-se nele.

A possibilidade de encontro com o outro por meio da pintura não deixa de ser um momento puramente corpóreo quando analisado fenomenologicamente. Em seu ensaio O Olho e o Espírito, Merleau-Ponty (2004, p. 18) estuda a relação corporal que o pintor tem com seu trabalho durante o processo de criação, mas também a relação estabelecida entre observador e pintura quando o observador está diante de um quadro. Para ele, as qualidades materiais de uma pintura, como “luz, cor, profundidade, que estão a uma certa distância de nós, só estão aí porque despertam um eco em nosso corpo, porque este as acolhe”. Mantém-se então o corpo como agente de troca experiencial com fenômenos mundanos. E se o artista pinta a partir do que viu e experienciou no visível, mantém-se a relação entre os chamados “labirintos” pintados por António Manuel e todo o percurso visto de sua produção.

Seus planos geométricos abertos são organizados de forma sequencial, ora justapostos ora sobrepostos, e propõem ao observador uma espécie de enigma visual, um jogo ao seu olhar e, consequentemente, ao seu corpo. Não há um percurso claramente estabelecido para o olho, e sim a proposição de seu movimento contínuo pela obra, o que agrega à produção pictórica um caráter de movimento direcionado próximo ao que ocorre nas outras linguagens. Merleau-Ponty (2004, p. 16) aponta que “a visão depende do movimento. Só se vê o que se olha. Que seria a visão sem nenhum movimento dos olhos [?] ”. Assim, há nessa proposição de um percurso do olhar algo de semelhante ao percurso proposto pelas instalações de António Manuel, nas quais é fornecido ao corpo um espaço para percorrer livremente de acordo com as escolhas de cada espectador, e também fornece zonas de impossibilidade (carvão, buracos na parede etc.), que fazem com que o corpo se relacione diretamente com o contexto para que possa se movimentar, em um constante jogo entre o interno e o externo.

Como podemos ver com Hubert Godard (2005), “em geral, a pintura é uma declaração de espaço”. Com António Manuel, a alusão aos espaços urbanos, aos quais somos diariamente submetidos na contemporaneidade, é clara, apesar de abstrata, como aponta Sonia Salzstein ao tratar de suas pinturas. A crítica também reforça a relação entre corpo e adequação espacial ao dizer que há “toda uma vivência corporal no interior de cada uma das obras, ou algo como o roteiro dos percalços de um corpo para situar-se, posicionar-se de maneira estratégica perante situações instáveis e coercivas” (SALZSTEIN, 2002). Na pintura, a proposição do movimento e do espaço ocorre através da apresentação de situações bidimensionais, espécie de plantas-baixas de labirintos prontas para serem sobrevoadas pelos corpos que as observam.

 

3. Nomeação e Validação como Aspectos Problematizadores de O Corpo É a Obra

 

Afinal, o artista é só a obra ou a obra é só o artista? A única lição é a liberdade [6].

António Manuel

 

O conceito de intermedia apresentado pelo artista Dick Higgins, em 1965, em um livro publicado por sua própria editora [7] será amplamente utilizado a partir de seu surgimento para lidar com uma série de proposições do período. Diferentemente do conceito de multimídia, a intermedia pressupunha um espaço não só combinado, mas também híbrido entre as linguagens. Em 1966, o crítico de arte brasileiro Mário Pedrosa utilizou-se do termo pós-moderno para situar a produção de Hélio Oiticica como uma obra na qual os valores plásticos se mesclam em estruturas perceptivas e situacionais. Conforme cita Cristina Freire (2005, p. 67), ambos os termos são exemplos resultantes de uma afasia gerada pela arte contemporânea na nomeação e na crítica de arte, decorrente da passagem do período moderno para o contemporâneo. Nessa passagem, ao deslocar o foco do objeto artístico e de sua objetividade material, são estreitadas e desfocadas as relações entre arte e vida, entre as linguagens artísticas (como pintura, escultura, fotografia) e entre as próprias figuras do sistema da arte, forçando novas nomeações e relações.

Os dois exemplos de pensamentos citados acima são justapostos primeiramente para evidenciar um problema de nomeação e validação crítica que hoje circunda a ação O Corpo É a Obra. O crítico Mário Pedrosa (1900-1981), figura pontual na crítica de arte brasileira desde os anos de 1930, quando começa a escrever seus primeiros artigos, torna-se, nas décadas seguintes, uma figura que transita entre os lugares da crítica, da historização, da militância, dentre outros. Apesar de ser lugar comum tratar de sua importância quase vital para a crítica da arte do período, faz-se necessário abordar novamente alguns pontos de seu projeto crítico para que seja possível, assim, analisar a interferência causada por ele na ação de António Manuel.

A entrada de Mário Pedrosa no campo crítico dos anos de 1930 é marcada por um fim da crítica como mera descrição do objeto artístico para dar lugar a uma crítica engajada, de alto teor social e político, negando o desenvolvimento da arte pela arte e vinculando-a a um caráter revolucionário. Revolução que inicialmente destina-se à aplicabilidade social do objeto artístico e depois reverte-se para o próprio sistema da arte, “referindo-se mais particularmente a uma renovação constante e atualizada dos meios de expressão e forma, e elegendo, como principal inimigo, o academicismo” (BARROS, 2008, p. 49). É nesse momento que nossa análise se situa.

Após exercer forte influência organizadora e catalisadora na formação do grupo concreto carioca, inclusive apresentando as teorias merleau-pontyanas aos artistas para o estabelecimento de um contraponto ao que se considerava como uma excessiva racionalidade do grupo paulista, Mário Pedrosa irá, em 1970, se valer do termo “exercício experimental da liberdade” [8] para tratar da ação O Corpo É a Obra. Mais precisamente, o crítico versaria o seguinte a respeito do trabalho:

 

O que António está fazendo, com o seu gesto, se apresentando como obra, é o exercício experimental da liberdade. Não está querendo dominar os outros. Está apenas propondo a autenticidade total, que é sempre criativa. A arte é a única coisa que é contra a entropia do mundo. Toda aquela problemática da arte pobre etc., também acaba ficando no plano estético, porque não reúne, ao lado do plano criativo, o plano ético. Com sua atitude colocou de maneira esplêndida o problema ético, que é fundamental na arte de hoje. (PEDROSA, 1996 apud MANUEL, 2010, p. 94).

 

Também será dito, em outro depoimento dado pelo crítico e publicado em O Jornal, sobre a intervenção/exposição de António Manuel Das 0 às 24 Horas: “o fato de hoje você ter feito isso sacode toda a perspectiva da arte. A discussão ética, a discussão sobre arte. Discute tudo” (PEDROSA, 1973 apud BUENO, 2010, p. 13).

O que aqui se pretende pontuar não se trata de uma diminuição do valor da expressão de Pedrosa, mesmo porque hoje ela se dilui em diversas referências que extrapolam a obra de António Manuel, tornando a frase uma caracterização extremamente ampla das preocupações do período pós-moderno da arte brasileira. Otília Arantes (2004), por exemplo, irá se valer da frase em seu livro Mário Pedrosa: Itinerário Crítico para introduzir o trabalho plástico de Lygia Clark, sem citar António Manuel. O que se pretende é analisar como as reverberações da obra influem hoje em sua descrição e crítica. Pontuaremos, assim, a visão construída acerca da obra em questão como desdobramento direto ao que foi escrito sobre ela (tanto os primeiros jornais quanto a frase proferida por Pedrosa).

 

3.1. Reverberações: a experiência compreendida

A princípio, a resposta direta à ação irá surgir nos jornais e periódicos, principalmente no eixo Rio-São Paulo. Apesar de alguns distanciamentos em relação aos fatos originais [9], as notícias, de natureza mais descritiva, possibilitam um viés de observação da intervenção que a mostra mais irônica e menos prepotente. Os próprios títulos a tratam de forma quase irônica, variando entre “Strip-tease”, “No Museu um Homem e uma Mulher sem Roupa”, “Adão e Eva no Museu de Arte Moderna” [10], e os artigos relatam momentos que indicam certa irreverência do artista: “Quando a última peça de roupa de António Manuel escorregou de seu corpo, ele virou-se para os presentes – atônitos – e versejou, numa posição de estátua: – ‘Admirem-me. Já viram em suas vidas algo mais belo?’” (NO MUSEU…, 1970 apud FREITAS, 2007, p. 266). Outro ponto que hoje não é mais citado foi a reverberação produzida pela ação em alguns artistas participantes do evento no MAM, que passaram a queimar papéis e jornais dentro do próprio museu, gerando uma verdadeira “algazarra”, conforme cita a Tribuna da Imprensa no artigo “Homem Nu no Museu Causou Escândalo” (1970).

Parte desses primeiros apontamentos que revelam outros aspectos da ação e que hoje pouco se discute, são duas charges feitas pelo cartunista Jaguar:

 

Charge de Jaguar. Pasquim, 28 de maio de 1970. Fonte: FREITAS, Artur. Contra-Arte: Vanguarda, Conceitualismo e Arte de Guerrilha, 1969-1973, 2007, p. 305

 

Charge de Jaguar. Última Hora, 27 de maio de 1970. Fonte: Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/efemera/antonio.html>. Acesso em: 30 nov. 2012 – 14h

 

Nelas, o julgamento crítico acerca da obra e o jogo estabelecido entre a ação e os discursos decorrentes dela sutilmente são trazidos à tona. Em ambos os casos, é claro como o corpo do artista, que na proposição vinha como um corpo experiencial e vivo em relação ao espaço e ao público, é objetificado no momento de sua validação estética que, na primeira imagem, é evidenciada pela colocação do corpo nu como um objeto a ser admirado (como pontuado na primeira parte do artigo). Já na segunda, o que ocorre é uma vedação do corpo por parte dos críticos, que, em primeiro plano, julgam em polos opostos a obra (um citando-a como “genial”, ou seja, atual e contemporânea, e outro chamando-a de “acadêmica”). É nessa sobreposição entre obra e crítica que hoje há um embate aparente entre a crítica [11] de Mário Pedrosa e o trabalho do artista, tornando a crítica “um manifesto utópico tão exemplar […] quanto o próprio gesto de António Manuel” (FREITAS, 2007, p. 313).

Em uma obra que, de acordo com o próprio crítico, “transcende o plano da discussão puramente estética – em função de uma obra. É a própria vida” (PEDROSA, 1970 apud MANUEL, 2010). É no mínimo curioso que hoje grande parte do que se fala sobre a obra seja sustentado por uma frase que a valida como exercício artístico pontual da necessidade libertária artística e política do período. Dada sua efemeridade, hoje restam apenas relatos da ação.

No momento em que uma crítica de tamanho peso ganha importância com os comentários agregados a ela no decorrer dos anos, ela deixa de ser crítica e passa a ser descrição; falar da obra torna-se falar da fala sobre a obra. Merleau-Ponty, em seu ensaio “A Linguagem Indireta e as Vozes do Silêncio”, presente em O Olho e o Espírito (2004), irá distinguir a fala falante da fala falada. A primeira, criadora e inventiva, possui uma vivacidade que inexiste na fala falada, que é repetição e objetificação do já existente. Essa repetição, que transforma a experiência em mera informação, é percebida no apontamento de Mário Pedrosa.

Figurando em grande parte dos escritos sobre a obra, a frase totaliza um apontamento que é crítico e, portanto, parcial, e impede o estabelecimento de outras relações críticas com o trabalho, impossibilitando uma real compreensão descritiva da ação. A visão de outro crítico, Ronaldo Brito (1984, p. 9), enxerga a obra com relativa “ineficácia” e “irrealidade”, afirmando que “há algo de triste nesse momento de alegria narcisista e iconoclasta: a sua solidão, a sua fragilidade como manobra libertária frente ao peso do obscurantismo vigente”. O texto de Ronaldo Brito, que tem por título Anônimo e Comum, depois é referenciado no vídeo de Rogério Sganzerla, Anônimo e Incomum. Esse viés de observação nos possibilita ver na obra um ato socialmente menos heroico e mais ingênuo em relação a todo um contexto político ditatorial que extrapolava a realidade pontual dos salões de arte.

Esse falar sobre a obra nos remete à relação entre experiência e pensamento na história da filosofia, conforme é apontado por Merleau-Ponty. Segundo o filósofo, a experiência em si foi, durante toda a história da filosofia, relegada à fala sobre a experiência. E essa fala constituiu uma representação da experiência, retirando o caráter vital da experiência e, portanto, neutralizou-a. A frase de Mário Pedrosa, mais do que um apontamento crítico, torna-se a “experiência compreendida, um discurso sobre ela para silenciá-la enquanto fala própria” (CHAUÍ, 2002, p. 162), renegando o caráter encarnado e vital da experiência proposta por António Manuel e Merleau-Ponty.

 

3.2 Especificidade e nomeação como performance

A racionalização da experiência acima citada, somada a uma descrição muitas vezes precária da obra como um todo, gera outro problema que é a nomeação da ação como performance. O artista, ao falar sobre seu trabalho, nos coloca, com certa imprecisão: “vamos chamar O Corpo É a Obra agora de performance, porque na época não era” (MANUEL, 2010, p. 119). Esse posicionamento é reforçado por Guy Brett (2007, p. 55): “a essência da ação está em ter sido realizada uma vez, uma ocasião, como uma manifestação, um testemunho, não como um novo estilo e, certamente, não como uma contribuição a um novo gênero chamado ‘arte performática’”.

Da mesma forma que o próprio artista percebe a imprecisão da palavra, Guy Brett afirma que não há, em O Corpo É a Obra, contribuição efetiva para a linguagem da performance – ao menos não diretamente –, pois para o artista não houve uma preocupação essencial com questões dessa linguagem. Isso se percebe no isolamento da ação de António Manuel em relação às outras linguagens artísticas trabalhadas pelo artista durante toda sua produção. O problema, de fato, não reside nas intenções do artista produtor, pois, uma vez realizado, o trabalho já está entregue aos outros para sua fruição. Porém, ao pesquisador e crítico, a revisitação se faz sempre necessária para uma melhor compreensão das escolhas realizadas, quando analisadas por uma óptica atualizada.

Ao tratar dos principais aspectos da linguagem performática, o crítico Paco Barragan cita, como segundo aspecto, a possibilidade de reprodução da ação em diferentes entornos e para diferentes públicos, ou seja, discute sua portabilidade (BARRAGAN, 2002 apud LABRA, 2009, p. 9). No caso da ação O Corpo É a Obra, é possível que resida em sua oposição a essa portabilidade o caráter que a distancia de uma performance.

A ação de António Manuel possuía, em primeiro plano, uma especificidade em relação ao seu entorno, tornando-a um trabalho intervencionista orientado para aquele local, em que apenas o procedimento de ação foi performativo. Antecipando um procedimento cada vez mais comum nas práticas intervencionistas, O Corpo É a Obra revela-se em relação direta com o conceito de site-oriented ao lermos um trecho do artigo de Miwon Kwon (1997, p. 167), no qual a autora, ao descrever o procedimento intervencionista, explica:

 

o artista se aproxima de ser a “obra”, em vez do contrário, como se pressupõe comumente (ou seja, a obra como substituto do artista). Talvez por causa da “ausência” do artista na manifestação física do trabalho, sua presença tem-se tornado pré-requisito absoluto para a execução/apresentação de projetos site-oriented.

 

A intervenção direta no espaço do MAM, no dia da abertura do salão, a negação prévia da proposição de António Manuel, os comentários ouvidos pelo artista sobre a recusa da presença de sua obra no XIX Salão de Arte Moderna MAM e principalmente a prisão de Raymundo Colares no dia anterior à abertura do salão, por ter apedrejado o MAM, são alguns dos fatores que tornaram a ação de retirar a roupa e se colocar como obra uma resposta automática [12] do corpo do artista à negação de sua presença (ou ausência) naquele espaço, e não um trabalho previamente projetado. A questão é primeiramente espacial – e específica –, problematizando o local da arte e do corpo ao criar um espaço de interstício entre ambos. A própria performatividade do procedimento não parece estar nas formas de uso do corpo ou em sua nudez, mas sim na colocação do artista em estado de evidência para o outro. Esse “fazer para o outro” é acentuadamente presente na ação de António Manuel, porém, até mesmo nessa ação há a especificidade de se colocar como obra para as pessoas que estavam lá e compreendiam a arte exposta como uma maravilha, de modo contrário às crenças do artista [13].

 

4. A Experiência Interminável: Considerações Finais

Merleau-Ponty é seguramente um dos maiores propulsores do pensamento sobre arte brasileira contemporânea. Sua revisitação à experiência como um exercício que precisa ser vivido diretamente pelo corpo e pelo pensamento filosófico vem ao encontro da necessidade de resgate da experiência subjetiva no contexto do período da ditadura no Brasil. Para os artistas que iniciaram sua produção no período neoconcreto brasileiro, como Hélio Oiticica e Lygia Pape, a influência do pensador é constante durante todo o percurso artístico, pelo grau de incidência que a fenomenologia teve na construção do ideário neoconcreto.

Cronologicamente, o neoconcretismo perdura entre 1959 e 1962. António Manuel irá iniciar sua produção efetiva em um período posterior, a partir de 1964, com suas primeiras interferências em jornais. Sua relação com o neoconcretismo, apesar de próxima, é referencial. Além desse fator, outros movimentos artísticos estavam em efervescente produção, como a tropicália, e o período de maior repressão ditatorial no Brasil estava próximo, com a instituição do AI-5. Esses fatores externos fazem com que a produção de António Manuel possua diferenças notáveis, tanto em relação aos procedimentos e temas abordados como em relação à sua aproximação de Merleau-Ponty. Seu trabalho possui elementos que podem ser vistos sob a óptica fenomenológica como: ativação motora na relação espectador-obra; estreitamento da relação entre objeto e espaço; transferência da atividade para o espectador. Porém, esses são aspectos que permeiam boa parte da produção dos anos de 1960 e de 1970 no Brasil, e não se constituem em laços diretos com a obra de António Manuel.

Como foi visto pontualmente em trabalhos realizados por António Manuel em diferentes linguagens, a aproximação específica com Merleau-Ponty se dará pelo entendimento que o artista tem acerca do espaço. Desde o início, com os jornais, passando pelas urnas, instalações e culminando em suas pinturas, os espaços de António Manuel são sempre interferidos pelo corpo e respondem a essa interferência, tornando corpo e espaço um amálgama e evidenciando o jogo constante que existe entre ambos. Esse mesmo vínculo entre corpo e espaço é claramente percebido em O Corpo É a Obra, e tal fator se constitui tanto em uma característica da ação quanto em um ponto problemático a ela. A ação realizada por António Manuel possui uma especificidade em relação àquele tempo e espaço: ao mesmo tempo que está vinculada às noções merleau-pontyanas, distancia-se da performance e se aproxima de um trabalho intervencionista. Por esse motivo, esta pesquisa se desdobrou em uma aproximação sobre essa especificidade da ação, que torna a classificação de O Corpo É a Obra como performance algo sempre colocado em questão por críticos e pelo próprio artista, como apontamos no desenvolvimento deste trabalho. Sem o interesse de relocar a ação de António Manuel em outra linguagem, o que se buscou aqui foi ampliar as possibilidades de se compreender a ação, entendendo-a além de uma exaltação ao corpo vivo, percebendo-a como intervenção fortemente contextualizada (e que por isso foi tão pontual para a arte brasileira) e que dependia integralmente do espaço para sua realização. Não era mais um corpo em vida e em relação com o mundo todo o que propunha António Manuel, mas sim um corpo em contato com aquele topos, e com a exclusão que se obteve dele. O artista sugeriu, portanto, um corpo utópico (do grego: “nenhum topos” ou “lugar nenhum”), ou seja, um corpo que não participava daquele ambiente, mas que reivindica sua presença nele, evidenciando-se. De acordo com o artista: “abaixar ou levantar aquilo que censura” (MANUEL, 2010, p. 53).

Em relação à frase de Mário Pedrosa, percebe-se nela a sedimentação da experiência que foi assunto da crítica de Merleau-Ponty em seu projeto filosófico. De fato, é impossível reproduzir a experiência como ocorrida em 1970, dada sua efemeridade e especificidade. O contato que temos com ela é cada vez mais de sobrevoo e, com isso, mais distante da experiência efetiva. Como foi observado, outras visões, outros pronunciamentos de artistas, o modo específico como a ação se realizou, são todos elementos esquecidos em favor da frase-síntese de Mário Pedrosa. Se o que existe hoje é transcrição e relato da experiência, é preciso que esse material seja cada vez mais desenvolvido e questionado para que ampliemos, de fato, a experiência.

Mais do que isso, essa questão nos redireciona para a necessidade constante da criação apontada por Merleau-Ponty. O Corpo É a Obra pode ser cada vez mais estudado e questionado, mas o trabalho já aconteceu e já colocou o corpo em relação intersubjetiva direta com aquele espaço. Porém, o corpo ainda existe, e novos espaços e contextos o rodeiam e exercem novas relações com ele, exigindo novas quebras e ultrapassagens. Para Merleau-Ponty: “Na obra de arte como na obra teórica, assim como na coisa sensível, o sentido é inseparável do signo. A expressão, portanto, nunca está acabada” (MERLEAU-PONTY apud CHAUÍ, 2002, p 177). Para António Manuel (2010, p. 23): “é necessário extravasar a cuca anestesiada”. Ainda hoje – e sempre – a criação e expressão serão necessárias para o exercício constante da experiência. Experimentar a liberdade, como diz a citação de Pedrosa, não pode se tornar frase cristalizada, mas sim exercício constante do ser no mundo.

 

 

NOTAS

[1] Não mais citada quando se trata da ação de António Manuel, Vera andou com o artista durante todo o percurso, porém sem retirar sua calcinha.

[2] Além da pesquisa Ondas do Corpo realizada nos anos de 1970 por António Manuel com outros artistas, na qual ele os entrevistava referindo-se a questões sobre o tema, podemos perceber o interesse do artista na temática do corpo em diversos outros escritos, como na explicação sobre o início da ação O Corpo É a Obra: “[C]omecei a perceber a temática do corpo. Afinal, era ele que estava na rua, sujeito a levar um tiro, receber uma pedrada, uma cacetada na cabeça […]” (MANUEL, 2010, p. 79).

[3] Ambos os procedimentos fazem parte de uma tríade de procedimentos performativos (imobilidade, repetição e inconstância) que Anthony Howell considera como a gramática básica da linguagem performática, e que foi tomada como chave para a análise da ação de António Manuel.

[4] O termo sentiente é utilizado primeiramente pelo filósofo Xavier Zubiri através de uma apropriação da palavra em latim, que significa: o que sente, que tem sensações. Merleau-Ponty utiliza-o para citar um corpo cuja reflexão ocorre em si (ou seja, o tocar é inerente ao ser tocado). Enquanto o corpo sensível é o que percepciona algo externo à ele, o corpo sentiente é o corpo que se autorreflete, retornando a percepção a si próprio.

[5] No capítulo “O Corpo como Objeto e a Fisiologia Mecanicista”, Merleau-Ponty aponta a impossibilidade da fisiologia e da mente em lidarem com um estímulo como o do membro fantasma, introduzindo a possibilidade de esse ruído entre percepção e realidade ser causado pelo choque entre a imagem do corpo que aquele ser vivo sempre possuiu e a atual condição desse corpo, ao perder parte dele.

[6] Frase final do vídeo Anônimo e Incomum (1990), produzido e dirigido por Rogério Sganzerla.

[7] Artista do Fluxus, Dick Higgins fundou a Something Else Press em 1963. Dentre os mais de quarenta livros editados, Higgins publicou o livro de sua autoria Foew&ombwhnw – A Grammar of the Mind and the Phenomenology of Love and a Science of the Arts as Seen by a Stalker of the Wild Mushroom, livro introdutor do termo citado.

[8] Sobre o efetivo surgimento da expressão, os resultados divergem. Teóricos como Guy Brett relacionam a criação do termo à ação de António Manuel: “De fato, foi em relação a António Manuel que Mário Pedrosa cunhou seu célebre mote – (a arte como) o ‘exercício experimental da liberdade’” (BRETT, 2007, p. 53). Já a grande maioria dos escritores que trata da produção crítica de Pedrosa irá situar o surgimento da expressão nos anos de 1960, mais precisamente em 1968, em um artigo publicado em O Correio da Manhã sobre o crítico francês Pierre Restany (FERRAZ, 2008, p. 311; RAMME, 2009, p. 471), só sendo retomada nos anos de 1970 para tratar de O Corpo É a Obra.

[9] Os primeiros jornais afirmavam que a obra que havia sido recusada era uma tela; outros, como o artigo “Explicação do Cantor Nu”, do jornal Última Hora, tornavam o assunto polêmico a ponto de nortear a discussão sobre a intervenção para a nacionalidade portuguesa do artista, além de chamá-lo de cantor, o que demonstra total distanciamento dos fatos.

[10] Conforme elencados na tese de Artur Freitas (2007, p. 266): “Strip-tease”, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 16 maio 1970; “No Museu um Homem e uma Mulher sem Roupa”, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 16 maio 1970; “Adão e Eva no Museu de Arte Moderna”, O Jornal, Rio de Janeiro, 16 maio 1970.

[11] Realizada em uma conversa gravada na casa do crítico (transcrita três anos depois para O Jornal e publicada em 1984) logo após a ação, conforme cita o artista: “fui para a casa de Jackson Ribeiro, onde recebi um telefonema do Mário Pedrosa. Fui até sua casa e fizemos uma entrevista na qual ele defendeu meu gesto”. (MANUEL, 2010, p. 80). Essa relação próxima e concordante entre o artista e o crítico pode ser percebida em outros depoimentos de António Manuel, como: “lembro-me de Mário Pedrosa, eufórico, visitando o Salão [da Bússola]” (MANUEL, 2010, p. 81) ou em entrevista realizada por Sheila Cabo e transcrita em António Manuel. Eis o Saldo, na qual o artista relata o momento em que, após ser proibido de entrar no MAM depois de sua ação, Mário Pedrosa o acompanha de braços dados até a entrada do Museu e “deu um esporro no cara” (MANUEL, 2010, p. 117) que o impediu de entrar.

[12] Caso o trabalho tivesse sido aceito, as relações teriam sido outras, pois o corpo já teria sido validado como arte. Sua institucionalização mudaria a incisão do artista dentro do espaço, o que possibilitaria um foco mais direto ao corpo.

[13] O artista narra sua chegada ao museu da seguinte forma: “Bem, eu fiquei lá andando pelo salão, batendo papo com o pessoal, até que de repente aquilo tudo me revoltou. Toda aquela gente dizendo ‘…olha que pintura! …olha que cor! ..olha que maravilha!…’ Não é nada disso!” (MANUEL, 2010, p. 30).

 

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Renan Marcondes é artista plástico, ator e performer. Mestrando em Poéticas Visuais pela Unicamp, bacharel em artes plásticas pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (bolsa Fapesp para Iniciação Científica e bolsa programa Informados – Melhor Aluno) e tecnólogo em atuação pela Oficina de Atores Nilton Travesso. Integrou a Companhia Perdida em 2013, dirigida por Juliana Moraes, em seu último processo de pesquisa e atuou como intérprete em Peças Curtas para Desesquecer. Atua com performance e videoperformance em diversas exposições na cidade de São Paulo, das quais se destacam a Bienal Internacional de Dança do Ceará; o 41o Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto, no qual foi premiado com a performance Hipótese sobre a Construção; e o ABRE ALAS 10 n’A Gentil Carioca.

 

PARA CITAR ESTE ARTIGO

MARCONDES, Renan. “Espaços de Ajuste, Corpos em Ajuste: Validação, Nomeação e a Transformação de um Corpo em Obra”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 2, n. 9, mar. 2014. ISSN: 2316-8102.

 

Revisão ortográfica de Marcio Honorio de Godoy

Pesquisa realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

© 2014 eRevista Performatus e o autor

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