Algumas Notas sobre Atividade e Performance

 

Vito Acconci, Step Piece, 1970. Cortesia de Acconci Studio | © Vito Acconci

 

1) Acessibilidade (disponibilidade) da pessoa.

Se o artista é um performer, em ação, sua presença sozinha produz signos e marcas. A informação que ele fornece necessariamente diz respeito à fonte de informação, ele mesmo, e não pode ser unicamente a respeito de algum objeto ausente; a informação é pertinente ao relacionamento geral do indivíduo com o que transpira.

Se o artista não pode estar continuamente em exposição, pode apresentar uma situação em que, por causa da vida cotidiana, ele é obrigado a agir, seja onde estiver no momento. (Pode ser exibido, por exemplo, um objeto de que o artista deve precisar em um ou outro momento, e, portanto, ir buscá-lo ou mandar buscar; o objeto exposto está lá em preparo para seu uso.)

Gerar expressão – e, portanto, fazer com que a informação esteja disponível – não precisa ser um objetivo final da ação, mas apenas um efeito colateral. A intenção do performer pode ser fazer movimentos inadvertidos, comportamento observável não orientado à avaliação que um observador pode fazer dele.

 

2) Linhas adaptativas de ação.

Uma performance pode consistir em fazer performance (aderir aos termos) de um elemento específico (uma regra, um espaço, uma performance anterior, outra pessoa). O performer pode variar entre tática – selecionando uma ação imediata de seu repertório disponível – e estratégia – escolhendo onde deseja estar em um momento futuro.

A performance pode ser montada como um processo de aprendizado. Quando o performer faz um movimento, as consequências de seu comportamento podem controlar seu próximo movimento. O uso de feedback pode firmar e colocar em uníssono um estágio da performance, depois do qual a mudança pode vir na medida em que material novo é importado e ao qual [o performer] se adapta.

O performer pode trabalhar como produtor; o padrão da performance pode ser linear – uma série de adições de material e energia. Ou ele pode trabalhar como consumidor. O padrão pode ser radial – linhas de material e energia que convergem sobre ele para que possa usá-las.

 

3) Impulso.

Se há demora no feedback, a direção da performance pode ser mudada. Uma linha de ação pode ser enfraquecida por forças emergentes no campo ao redor; as consequências de uma ação podem se tornar cada vez mais imprevisíveis.

A performance pode começar com uma reação de alarme a um estímulo, quando o performer está com dificuldade porque ainda não desenvolveu especificamente um sistema para dar conta da tarefa em questão. A performance pode tomar tempo na medida em que o performer passa por um estágio de resistência e adaptação, desenvolvendo um canal específico de defesa. A performance pode prosseguir até um estágio de exaustão, quando o canal específico de adaptação se rompe – a reação que se espalha por diferentes áreas – e o clímax é retido por um tempo depois do desligamento da força.

A exaustão é reversível se o performer pode descansar, como parte da performance – se ele não pode “marcar tempo”, na medida em que as coisas entram e saem de foco –, ou se ele pode passar para outro padrão sem séria resistência.

 

4) Privação, estigma e invasão de privacidade.

No estágio de exaustão, o performer está potencialmente vulnerável. Uma performance pode fornecer uma ocasião para exaurir seus canais de resistência e regras de ordem; pode colocar em foco explícito aquilo que normalmente não é tratado; pode produzir uma privação que requer reações sobrenormais na tentativa de buscar estabilização.

Como o performer age, em uma certa situação, pode ser revelado como variação da categoria e atributos que são exigidos dele do ponto de vista social. Ele pode ser reduzido de uma pessoa “íntegra” a outra “maculada” e desacreditada.

O assunto de uma performance pode ser o controle (ou a falta de controle) da informação pessoal. A performance pode ser um meio de desenvolver uma deficiência, ou um estigma, que faria com que o controle fosse mais difícil.

 

5) Estratégia e interação.

Se o performer entrar em contato com um terceiro (outro performer, ou um observador), a situação pode ser tal que o performer avalia enquanto o terceiro tenta penetrar nessa avaliação; o terceiro pode perceber que a avaliação do performer inclui, como uma de suas características, o fato de que o terceiro vai tentar penetrar nela.

Quando a avaliação é a base de uma atividade, o performer pode se tornar um parasita do terceiro, ou absorvê-lo. (Uma performance pode usar, por exemplo, técnicas de espionagem, perseguição, imitação; uma exposição pode propor que algumas posses pessoais do artista, como suas roupas, possam ser emprestadas e usadas por toda a duração da exposição.)

Uma performance pode ser uma série de admissões condicionais, em que o performer vai seguir um determinado curso de ação se o terceiro se envolver (ou se não se envolver) em outro curso de ação. O que pode estar em jogo em uma performance não é uma locação (e sua ocupação), mas a capacidade de se movimentar mais ou menos à vontade.

 

Vito Acconci

1970

 

 

O texto original encontra-se no livro The Art of Performance – A Critical Anthology, editado por Gregory Battcock e Robert Nickas, publicado pela E. P. Dutton Inc., em 1984, e foi gentilmente cedido pelo artista para a eRevista Performatus.

 

PARA CITAR ESTE TEXTO

ACCONCI, Vito. “Algumas Notas sobre Atividade e Performance”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 1, n. 6, set. 2013. ISSN: 2316-8102.

 

Tradução do inglês para o português de Ana Ban

Revisão ortográfica de Marcio Honorio de Godoy

Edições de Da Mata

© 2013 eRevista Performatus e o autor

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